Painel com os logotipos da COP30 e da Cúpula dos Povos fixado em um tapume de madeira; ao fundo, vê-se uma área de floresta queimada e garimpo aberto, com fumaça e árvores carbonizadas

COP30 e Cúpula dos Povos: as duas faces da mesma farsa verde

Por trás do espetáculo, os dois lados da mesma lógica de consumo que incinera o planeta

Maurício Moura

A COP30 em Belém já começou e o roteiro segue implacável. Enquanto negociadores debatem vírgulas em textos que poucos lerão e corporações anunciam “compromissos climáticos” em eventos paralelos, a máquina do capitalismo verde acelera. Do outro lado da cidade, a Cúpula dos Povos entra em seu clímax retórico, com discursos inflamados que ecoam em salas superlotadas. Mas o que parece oposição é, na verdade, simbiose: ambas as esferas validam a premissa fundamental de que a crise climática pode ser resolvida sem questionar o paradigma do crescimento infinito.

A coreografia é a mesma: na zona oficial, fala-se em “neutralidade carbônica” e “mercados de carbono”, conceitos que transformam a atmosfera em commodity e, na “zona alternativa”, denuncia-se a “economia verde” enquanto propõe “alternativas” que utilizam estritamente a mesma lógica. A contradição não é acidental, mas estrutural.

A verdade que nenhum dos lados quer encarar é que o problema não é como produzir energia, mas por que consumimos tanta. Enquanto a COP30 aprimora a maquiagem verde do capitalismo, a Cúpula dos Povos oferece o contraponto folclórico que torna a farsa crível. O planeta, entretanto, não se deixa enganar pela encenação.

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Imagem em estilo apocalíptico mostrando um enorme data center futurista em formato horizontal, drenando os recursos do planeta. Tubos grossos extraem a última água de um rio seco e sugar energia do solo, que fica carbonizado e rachado. Cabos arrancam minerais e raízes da terra, enquanto o data center brilha com luz intensa e emite ondas de calor sob um céu poluído, em uma paisagem desolada de terra arrasada

Por que a Inteligência Artificial é inimiga do clima

Maurício Moura

A mesma tecnologia que promete salvar o planeta consome recursos em escala continental. Enquanto o Brasil consumia 508 TWh (Terawatt-hora) de eletricidade em 2022, os data centers globais demandavam 460 TWh, com projeções de ultrapassar 1.000 TWh em 2026, equivalente ao consumo anual do Japão 1. Esta contradição define nossa era: a Inteligência Artificial (IA) celebrada por seu potencial climático é também fonte de demanda energética explosiva e impactos ambientais ocultos.

O debate entre tecnófilos e tecnófobos é enganoso. A IA não é ferramenta neutra, mas campo de batalha técnico e político 2. Seu impacto final será determinado pelo modelo de sociedade e interesses econômicos que comandarem sua implantação. Enquanto a indústria de Tecnologias da Informação e Comunicação responde por 1,8% a 2,8% das emissões globais 1, a narrativa hegemônica a vende como salvadora verde. A disputa real opõe uma IA para transição ecológica popular e outra para acumulação verde de lucros.

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