Materialismo, idealismo e dialética: chamando as coisas pelos seus nomes

glass-ball-1974826_960_720O senso comum faz uma grande confusão entre os termos materialismo e idealismo. Com influência, provavelmente, da moral religiosa, várias pessoas defendem a ideia de que o materialismo é o enaltecimento dos prazeres mundanos em detrimento de ideais mais “elevados”.

Essa ideia não é nova:

 “O filisteu entende por materialismo glutonaria, bebedeira, cobiça, prazer da carne e vida faustosa, cupidez, avareza, rapacidade, caça ao lucro e intrujice de Bolsa, em suma, todos os vícios sujos de que ele próprio em segredo é escravo; e por idealismo, a crença na virtude, na filantropia universal e, em geral, num ‘mundo melhor’, de que faz alarde diante de outros, mas nos quais ele próprio [só] acredita, no máximo, enquanto cuida de atravessar a ressaca ou a bancarrota que necessariamente se seguem aos seus habituais excessos ‘materialistas’ e [enquanto], além disso, canta a sua cantiga predileta: que é o homem? — meio animal, meio anjo.”
(ENGELS, F. Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã. 1886)

Como demonstra o texto a seguir, essa visão não condiz com a realidade. Ele explica o ponto de vista de um dos principais teóricos do materialismo, o alemão Karl Marx. O materialismo (em especial o materialismo histórico e dialético) é uma concepção filosófica, não um preceito moral. O preceito básico seguido pelo materialismo é a observação da matéria, ou seja, do mundo real, sem o uso de hipóteses mágicas ou fantásticas. Ou seja, o materialismo defende que o mundo deve ser explicado a partir de si mesmo, até porque a matéria é a realidade objetiva e existe independente de nossa percepção ou consciência.

Leia também As teses de Marx sobre a filosofia de Feuerbach.

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As teses de Marx sobre a filosofia de Feuerbach

Por volta do ano de 1845, Marx começava a formular sua crítica à filosofia alemã, tanto ao idealismo quanto ao materialismo contemplativo. Analisando as ideias do jovem hegeliano Ludwig Feuerbach (que já publiquei aqui), Marx formula ideias centrais a partir das quais ele evoluiria sua crítica.

Esse rascunho só chegou a ser publicado após a morte de Marx, quando Engels editou-as e publicou-as como um apêndice ao seu livro Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã. O texto original só ressurgiu em 1924 quando o Instituto de Marxismo-Leninismo de Moscou publicou A filosofia alemã.

Com este texto, continuamos nossa série sobre a gênese do pensamento materialista.

Aqui, Marx entende que não basta contemplar a matéria estática, como se fosse um quadro. É preciso entender que a realidade é a matéria em movimento, a interação entre os elementos e os indivíduos. Com essa compreensão, percebe que é necessário alterar esse mundo, alterar a realidade, alterar as interações entre os indivíduos conforme as necessidades reais das pessoas reais.

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Os princípios da filosofia do futuro de Feuerbach

Dentro da série de descoberta das raízes do materialismo, publico o terceiro dos textos clássicos de Feuerbach.

Este texto, junto com os outros dois já publicados, lança as bases da defesa de Feuerbach de transformar a teologia em antropologia, ou seja, de propor que a filosofia deixe de se basear na fé e no imaterial e passe a se basear no homem natural, em seus sentimentos, história, anseios. É o esboço do materialismo, do ateísmo teórico responsável e coerente. Assim, critica toda filosofia especulativa que desconsidere as experiências empíricas do indivíduo.

Feuerbach materializa uma crítica a seu mestre, Hegel, por este reafirmar o idealismo ao valorizar o que o homem não pode sentir em detrimento da sensibilidade humana.

Leia também outros textos de Feuerbach.

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A gênese do materialismo: Necessidade de uma Reforma da Filosofia

Este é o segundo texto que publico sobre a gênese do materismo para compreendermos o nascimento do pensamento materialista.

Mais uma vez, trago um texto de Ludwig Feuerbach. Filósofo alemão do século XIX, grande influenciador da filosofia materialista.

Leia também as Teses Provisórias para a Reforma da Filosofia.

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A gênese do materialismo: as Teses Provisórias para a Reforma da Filosofia de Feuerbach

Ludwig Feuerbach foi um filósofo alemão do século XIX, grande influenciador da filosofia materialista.

Feuerbach era estudante de teologia, mas abandonou essa linha para se tornar dissípulo de Hegel e estudar ciências naturais. Crítico da filosofia teológica, escreveu uma série de livros em que analisa a relação da religião e do ser humano e critica a alienação religiosa, ou seja, a partir da compeensão do papel antropológico da religião, critica seu papel teológico, pois ele afasta o homem da realidade e das suas verdadeiras necessidades.

Apesar de não romper com o idealismo, Feuerbach o critica, defendendo a precedência da matéria sobre a ideia.

Teve grande influência no pensamento de Marx, que escreveu A Ideologia Alemã exatamente sobre a limitação de Feuerbach e os chamados hegelianos de esquerda em romper com o idealismo.

Este pretende ser o primeiro de uma série de textos que quero publicar aqui para tentarmos acompanhar as causas e o surgimento do pensamento materialista.

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