Os principais argumentos contra o aborto: ponderações científicas

David Robert Grimes*

Só na semana passada, o aborto causou controvérsias nos EUA, Reino Unido e Chile. A ciência médica é muitas vezes reivindicada em ambos os lados do debate, mas o que há de evidências em algumas das principais reivindicações em torno do aborto?

Há poucos assuntos no discurso moderno tão divisivos, tão repletos de incompreensões e enraizados de convicções profundas quanto o aborto.

Os que defendem o direito de escolher argumentam que é um direito da mulher escolher se levará a gravidez a termo ou não. Do outro lado, os ativistas anti-aborto insistem que a partir do momento da concepção o feto tem o direito inalienável à existência. Nos últimos anos, a polarização aumentou e o tema tem se tornado politicamente excepcionalmente exaltado, com os aspectos pessoais e políticos cada vez mais dificilmente separados.

Em meio a tantos argumentos apaixonados, é fácil que incompreensões e ficção preencham o espaço vazio entre as ideologias opostas. No entanto, se quisermos ter uma discussão fundamentada sobre o direito ao aborto, temos que abandonar as falsidades persistentes que obscurecem o tema. Se quisermos escolher a razão em detrimento da retórica, vale a pena abordar alguns dos mitos mais perniciosas que surgem cada vez que a questão do aborto é levantada.

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Por que é urgente legalizar o aborto?

Kalinka Jezari

Segundo dados divulgados no final da primeira quinzena de janeiro de 2016 pelo Ministério da Saúde, mais de 3.500 récem-nascidos foram diagnosticados com suspeita de microcefalia, possivelmente relacionada ao vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, também transmissor da dengue e da chikungunya.

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Direito ao livre aborto na Suécia: 40 anos de lutas e mitos derrubados

Fernanda Favaro*

Muito se fala na Suécia como um exemplo de país onde o aborto é legalizado e tratado como deve ser – uma questão de respeito à liberdade e à saúde da mulher. O que pouco se sabe é que, por trás da legalização, que em 2015 completa 40 anos, há uma longa história de julgamentos morais, abortos clandestinos, mortes de mulheres e abandono de bebês que muito se assemelha ao cenário medieval que ainda vivemos no Brasil de hoje. Uma realidade que só se transformou após um longo e teimoso ativismo de feministas, militantes de direitos humanos e reprodutivos, políticos, jornalistas, estudantes de esquerda e classe médica.

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Aborto: lei só é eficaz para matar mulheres

O aborto é a terceira causa de morte de mulheres durante a gravidez no Brasil. Dos quase 1 milhão de abortos realizados no Brasil por ano, cerca de 40% são inseguros. No mundo uma mulher morre a cada três minutos em decorrência de problemas relacionados ao aborto.

O ginecologista Jefferson Drezett é um dos grandes especialistas brasileiros na violência contra a mulher, incluindo o aborto. Doutor em Ciências da Saúde,  Drezett é Diretor do Núcleo de Violência Sexual e Aborto Legal do Hospital Pérola Byington, Membro na Grupo de Estudos de Aborto (GEA) da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), membro do Consorcio Latinoamericano Contra o Aborto Inseguro (CLACAI), membro do Consorcio Latinoamericano de Anticoncepción de Emergencia (CLAE) e por aí vai…

Na entrevista a seguir, de 2013, Drezett explica porque o aborto é um problema de saúde pública.

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CNBB desorienta jovens

A seguir, texto de Luã Cupolillo publicado no Jornal O Trabalho nº 734 (agosto/2013). No texto, Luã discute o Manual de Bioética distribuído pela CNBB durante a Jornada Mundial da Juventude. Já tratamos desse assunto aqui.

Luã é historiador e faz parte da coordenação nacional da Juventude Revolução. Foi diretor da UNE e coordenador geral do DCE da UFJF.

por Luã Cupolillo

Manual distribuído na Jornada da Juventude ataca direito ao aborto

Na jornada mundial da juventude católica, ocorrida no Rio de Janeiro, o Papa apresentou um discurso de modernização e tolerância para se aproximar da juventude. Discursos à parte, o que diz a cúpula da Igreja católica sobre questões que afetam diretamente a vida da juventude? O “manual da bioética” da fundação Jerome Lejeune, ligada à Igreja Católica e publicado no Brasil pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e distribuído aos inscritos da jornada, justificam as posições reacionárias da cúpula da Igreja com argumentos pseudocientíficos.

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Igreja Católica distribui manual pseudocientífico que defende o fim da laicidade

por Maurício Moura

Acabei de ter contato com o chamado “Manual de Bioética para Jovens”, produzido pela Fondation Jérôme Lejeune e publicado em várias partes do mundo. Uma versão deste “manual” está sendo distribuída aos participantes da Jornada Mundial da Juventude.

Assustadoramente, é um amontoado de proselitismo preconceituoso a pseudocientífico. Uma ode ao obscurantismo medieval.

Jérôme Jean Louis Marie Lejeune foi um médico francês do século passado. Especialista nos efeitos da radioatividade nos cromossomos humanos, descobriu a anomalia genética causadora da Trissomia 21, ou Síndrome de Down. Decidido que era possível encontrar uma cura para a anomalia, Lejeune foi ativo contra o uso de exames pré-natais para identificação da Trissomia 21 com fins de aborto dos fetos doentes. Católico, Lejeune foi escolhido por João Paulo II para ser o primeiro presidente da Pontifícia Academia para a Vida, uma organização vinculada ao Vaticano que tem como único objetivo a distorção da ciência em busca de argumentos contra a legalização do aborto. Está sendo beatificado pela Santa Sé para se tornar um símbolo dessa militância.

Bom, logo na introdução, o presidente da Fundação Jérôme Lejeune, Jean-Marie Le Méné, afirma: “A ciência é, verdadeiramente, a árvore do conhecimento do bem e do mal”. Ora, o que querem dizer esses senhores? Vejamos: em Gênesis 2:9, a Bíblia Católica afirma que Deus criou a Árvore da Sabedoria do Bem e do Mal, mas sobre ela, afirma: “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2:16-17).

Ora. então a ciência é a raiz da danação do homem? A ciência é o motivo e a raiz de todo o pecado? Para esses senhores, sim.

Ainda sobre a ciência, o “manual” continua: “Toda a nossa responsabilidade consiste em tentar colher os frutos bons e não trincar os frutos maus, nem oferecê-los aos nossos descendentes”. Fui pesquisar para entender isso e o que encontro? “Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons” (Mateus 7:18) e “Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto” (Lucas 6:43).

Apesar de afirmar categoricamente que a ciência é um mal que não pode dar nenhum bom fruto, o “manual” se traveste de “cientista”, buscando uma roupagem “séria” para suas bizarras afirmações.

Ainda na introdução, o manual deixa bem claro seu objetivo: impedir a legalização de qualquer prática descrita no manual, pois o uso de anti-concepcionais, de camisinha de DIU, segundo o manual “conduzem à arbitrariedade dos mais fortes” (SIC)

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