Pós-modernismo e o feminismo reacionário

O texto a seguir é uma contribuição ao debate que pretendo fazer aqui sobre a destruição do feminismo revolucionário pelo pós-modernismo e sua influência teórica em outras linhas de pensamento pretensamente revolucionárias, como o altermundialismo. Nele, a socióloga Maria Lygia Quartim de Moraes (doutora em Ciência Política e pesquisadora do Pagu – Núcleo de Estudo de Gênero da UNICAMP e do Grupo “Família, Gênero e Sociedade”do CNPq) analisa o pensamento de Ellen Meiksins Wood (foto), professora de Ciência Política na Universidade York e autora de A origem do capitalismo (2001), Em defesa da história (organizadora, 1999), The Pristine Culture of Capitalism (1992) e The Retreat from Class (1986).

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Má conduta científica é um problema global, afirma pesquisador

Por Elton Alisson

Plágio, falsificação e fabricação de resultados científicos deixaram de ser problemas exclusivos de potências em produção científica, como os Estados Unidos, Japão, China ou o Reino Unido.

A avaliação foi feita por Nicholas Steneck, diretor do programa de Ética e Integridade na Pesquisa da University of Michigan, nos Estados Unidos, em palestra no 3º BRISPE – Brazilian Meeting on Research Integrity, Science and Publication Ethics, realizado nos dias 14 e 15 de agosto, na sede da FAPESP.

Segundo Steneck, por ter atingido escala global, é preciso que universidades, instituições de pesquisa e agências de fomento em todo o mundo realizem ações coordenadas para lidar com essas questões, a fim de não colocar em risco a integridade da ciência como um todo.

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Acadêmico da CAPES nega projeto científico por divergências ideológicas.

Constantemente temos alertado para o crescente obscurantismo nas universidades brasileiras e para as constantes tentativas de destruição da universidade pública. Agora é a vez dos projetos de pesquisa sofrerem um absurdo ataque.

Um projeto envolvendo três importantes universidades públicas brasileiras acaba de ser negado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) porque o acadêmico responsável pelo parecer discorda ideologicamente da metodologia proposta. Em outras palavras, o preconceito obscurantista de um indivíduo condenou a busca do conhecimento levada a cabo por 19 professores universitários, 9 doutorandos, 15 mestrandos e 27 graduados da Universidade de Brasília, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte!

A justificativa? Para o consultor da CAPES, a contribuição do método científico materialista histórico-dialético é “duvidosa” (SIC). O tal “acadêmico” nega a contribuição de Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Maurício Tragtemberg, Adriano Codato, Marilena Chauí e centenas de outros filósofos, economistas, cientistas políticos, físicos, astrônomos, historiadores, sociólogos, pedagogos, psicólogos e teóricos e acadêmicos de todas as áreas do conhecimento.

Isso é sintomático. As ciências humanas vem perdendo cada vez mais espaço na pesquisa acadêmica. A perspectiva crítica, a compreensão do mundo, a cidadania estão sendo jogadas no lixo em nome de uma pretensa melhoria técnica, ou seja, não interessa mais o porquê fazer, mas apenas o fazer em si. É a construção de uma academia que forme cada vez mais apertadores de parafuso e cada vez menos pensadores.

Com toda a razão, os pesquisadores criaram uma petição pública para denunciar a tentativa de destruição do pensamento crítico levada a cabo por setores governamentais e da comunidade acadêmica.

O Livre Pensamento declara seu total apoio aos pesquisadores. Assine a petição online.

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É útil estudar a evolução?

Richard-Lewontin“Se eu acho que é
útil estudar a evolução?

Eu acho que a resposta é sim,
porque a visão de mundo
que precisamos,
que eu preciso,
é uma visão de mundo materialista.

Tudo de verdadeiro
que nós pudermos aprender sobre a natureza
contribui para nossa compreensão do mundo material
e isso é desejável”

Richard C. Lewontin

LEWONTIN, Richard apud GRAFFIN, Greg; OLSON, Steve. Anarchy Evolution: Faith, Science, and Bad Religion in a World Without God. Harper Perennial. 2010.

Tradução: Maurício Moura

O Mito da Caverna de Platão em quadrinhos

O Mito da Caverna, ou Alegoria da Caverna, é um texto do filósofo grego Platão, parte do Livro VII de A República. Através de um diálogo entre as personagens Sócrates e Glauco, Platão faz uma parábola para demonstrar como a escuridão e as trevas da ignorância podem ser superadas pela busca do conhecimento, da verdade.

As sombras projetadas pela pouca luz que entra na caverna representam o senso comum, a crença acrítica no relato anedótico, nas tradições e nos dogmas. É literalmente a visão parcial e limitada, mas vista pelos homens da caverna como sendo todo o mundo.

Por outro lado, a saída da caverna e a busca da luz é a busca pelo conhecimento, pela verdade. No início pode assustar e até fascinar, mas é a única forma de viver plenamente.

Esta versão, do estúdio de Maurício de Souza, é de 2002 e nos traz uma bem humorada visão dessa parábola. No final, o trecho de A República que contém a alegoria.

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Diderot: razão e fé

Diderot

“Se a razão é uma dádiva do céu,
e se o mesmo
se pode dizer quanto à fé,
o céu nos deu dois presentes
incompatíveis e contraditórios.”

Denis Diderot

“Pensées Philosophiques” in: Œuvres de Denis Diderot, Volume 1 – Página 245, item V, Denis Diderot, Jacques André Naigeon – J.L.J. Brière, 1821
Imagem: Magixl

Métodos científicos específicos das ciências sociais

Dando continuidade à nossa série sobre as metodologias científicas, apresentamos a última parte do capítulo 4 do livro Fundamentos da Metodologia Científica.

Já tratamos do Método Indutivo, do Método Dedutivo, do Hipotético-Dedutivo e do Dialético Materialista. Desta vez trataremos dos métodos específicos das ciências sociais.

Por conta da dificuldade em ser objetivo quando se trata das ciências sociais, há ainda um profundo debate sobre se essas ciências podem, de fato, ser consideradas ciências. A isso alia-se a dificuldade de controlar as variáveis em um ambiente social, por definição, repleto de interferências externas.

O filósofo francês August Comte deu uma grande contribuição nesse sentido, ao defender que o método científico fosse mais abrangente, mas foi Wilhelm Dilthey que defendeu que as ciências sociais tivessem autonomia metodológica a partir da diferenciação entre “explicar” e “compreender”.

Assim, mais do que explicar um fenômeno, o pesquisador deve contextualizá-lo na história e na cultura da sociedade em questão.

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O método dialético materialista

DialéticaEm mais um texto da série sobre metodologias científicas, chegamos ao método dialético.

A dialética é uma forma de analisar a realidade a partir da confrontação de teses, hipóteses ou teorias  e tem origem na Grécia antiga, com filósofos clássicos como Sócrates, Platão, Aristóteles e Heráclito.

Para Platão, a dialética era a própria definição do pensamento científico, ou seja, a dialética era simplesmente a investigação racional de um conceito.

Assim, a dialética é a investigação através da contraposição de elementos conflitantes e a compreensão do papel desses elementos em um fenômeno. O pesquisador deve confrontar qualquer conceito tomado como “verdade” com outras realidades e teorias para se obter uma nova conclusão, uma nova teoria. Assim, a dialética não analisa o objeto estático, mas contextualiza o objeto de estudo na dinâmica histórica, cultural e social.

A argumentação dialética foi usada também na metafísica (Osho Rajneesh, “guru” indiano, utilizou parte dos pensamentos de Heráclito), sendo sistematizada contemporaneamente pelo pensador idealista alemão Friedrich Hegel.

Hegel, expoente da filosofia clássica alemã, identificou três momentos básicos no método dialético: a tese (uma ideia pretensamente verdadeira), a antítese (a contradição ou negação dessa essa tese) e a síntese (o resultado da confrontação de ambas as ideias). A síntese se torna uma nova tese e o ciclo dialético recomeça.

Mas a dialética só se torna método científico a partir de Karl Marx, que critica o idealismo da filosofia clássica alemã e propõe a dialética materialista, ou seja, a utilização do pensamento dialético como método de análise da realidade, utilizando a própria realidade como argumento.

Este texto, como pretende analisar os métodos científicos, se refere a exatamente esse tipo de dialética: a dialética materialista.

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Benjamin Franklin sobre a fé

“O jeito de ver pela fé
é fechar os olhos da razão.”

Benjamin Franklin

Poor Richard: the almanacks for the years 1733-1758 – página 189, Benjamín Franklin, Editora Newly, 1964, 300 páginas

Imagem: Magixl

O método hipotético-dedutivo

Continuando com nossa série de textos sobre as metodologias científicas (já publicamos o método indutivo e o método dedutivo), hoje apresentamos o método hipotético-dedutivo.

Tal método, proposto pelo filósofo austríaco Karl Popper, tem uma abordagem que busca a eliminação dos erros de uma hipótese. Faz isso a partir da ideia de testar a falsidade de uma proposição, ou seja, a partir de uma hipótese, estabelece-se que situação ou resultado experimental nega essa hipótese e tenta-se realizar experimentos para negá-la. Assim, a abordagem do método hipotético-dedutivo é a de buscar a verdade eliminando tudo o que é falso.

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