Em 2006 a Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde brasileiro se juntou ao Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo e à Organização Pan-Americana da Saúde para elaborar um guia para ajudar a população brasileira a comer melhor, dado o fato de que grande parte da população tinha deficiências nutritivas e doenças crônicas advindas de deficiências alimentares.
Nasceu assim o Guia Alimentar para a População Brasileira, que se tornou rapidamente uma referência mundial no que tange às políticas públicas para a Saúde baseada em evidências, ou seja, baseada no conhecimento científico.
A partir de 2011 o Guia passou por um longo processo de avaliação que envolveu profissionais da saúde, educação, assistência social e agricultura, além de acadêmicos e pesquisadores.
O processo contou com as Secretarias da Saúde das Unidades da Federação, que promoveram encontros para discutir o tema, além de consultas públicas que somaram 3.125 contribuições de instituições de ensino, órgãos federais, estaduais e municipais, Conselhos e entidades ligados à nutrição, indústrias, associações e sindicatos ligados à produção de alimentos, entre outros.
O resultado foi uma nova versão, publicada em 2014, com uma linguagem mais fácil e mais alinhada à realidade e necessidades do povo brasileiro, além de mais atualizada com as novas descobertas científicas.
O Guia é citado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura como uma das quatro (entre oitenta) políticas públicas que seguem suas guidelines.
Deu até um orgulho de ser brasileiro, né?
Pois é, mas o Ministério da Agricultura do governo Bolsonaro, sob o comando da empresária e deputada pelo DEM, Tereza Cristina, acha que conhecimento científico é bobagem e o que importa é o lucro dos megaempresários.
A ministra enviou um documento ao General de Divisão Eduardo Pazuello, atualmente à frente do Ministério da Saúde, um documento em que solicita a retirada do Guia. A justificativa? O documento enviado tem a cara de pau de chamar de “cômico” e “pseudocientífico” o conteúdo do Guia, inclusive os que são baseados em resoluções da Organização Mundial de Saúde e em vastíssimia literatura científica.
Várias organizações ligadas à Ciência, à Saúde e à Nutrição classificam o ataque de Tereza Cristina como uma forma de beneficiar a indústria de alimentos em detrimento da saúde do povo brasileiro.
O guia faz referência a um outro documento assinado por Eduardo Mello Mazzoleni e Luís Eduardo Pacifici Rangel (respectivamente, coordenador e diretor do Departamento de Análise Econômica e Políticas Públicas da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura) mente descaradamente e sem a menor vergonha. Diz, por exemplo, que o Guia é “considerado um dos piores” do planeta. Claro que não cita fontes, já que é mentira.
Nas poucas vezes em que cita fontes, a nota da ministra cita fontes falsas, que não corroboram suas afirmações ou que simplesmente não tem nada a ver com o assunto!
Mas a principal crítica feita pelos representantes dos empresários multimilionários travestidos de governo é exatamente a maior fonte de elogios ao Guia: o uso da classificação NOVA, que divide os alimentos segundo seu grau de processamento.
Saiba mais
- Manifesto em defesa do Guia Alimentar para a População Brasileira
- Nota Oficial do Nupens/USP – Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo
- A investida do governo em favor da comida-lixo
- Ministra da Agricultura quer censurar dados sobre risco de alimentos ultraprocessados
- Ministério da Agricultura quer retirar de Guia Alimentar da Saúde dados sobre ultraprocessados