Miguel Nicolelis, neurocientista de expressão crítica, aponta para uma interface semitransparente do ChatGPT enquanto um cérebro humano orgânico contrasta com circuitos digitais que se desintegram ao fundo. Ilustração em estilo editorial que representa o debate entre inteligência biológica e artificial, com livros de neurociência em primeiro plano e elementos de dados se dissipando no ar.

O espelho vazio: a ilusão por trás da “inteligência” artificial

Maurício Moura

A recente euforia em torno dos sistemas de inteligência artificial reacendeu um debate fundamental: estamos diante de uma nova forma de consciência ou de espelhos vazios que apenas refletem nossos próprios dados? O neurocientista Miguel Nicolelis emerge com uma crítica devastadora: a IA não é inteligente nem artificial. Esta afirmação, longe de ser um mero jogo de palavras, representa um divisor de águas na compreensão do que realmente são essas tecnologias e dos riscos que representam para a cognição humana.

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Ratinho Júnior roendo a Celepar em cima de uma pilha de dinheiro

Ratinho Júnior vende os dados dos paranaenses em negócio secreto

Governo Ratinho Júnior insiste em leiloar os dados sensíveis de milhões de paranaenses, ignorando alertas judiciais, técnicos e a própria lógica do interesse público.

Maurício Moura

A Celepar (Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná) não é uma empresa estatal qualquer. Como primeira empresa pública de TI do Brasil, fundada em 1964, ela representa o cérebro digital do Estado: a custódia de informações que vão desde prontuários de saúde até operações de segurança pública. A insistência do governador Ratinho Júnior em privatizá-la, no entanto, não se sustenta em prejuízos ou ineficiência. Pelo contrário: a empresa é lucrativa e superavitária, com lucro líquido de R$ 130 milhões e faturamento de R$ 760 milhões nos últimos dois anos 1. Este processo, aprovado pela Assembleia Legislativa em apenas nove dias sob regime de urgência, representa um caso paradigmático de como o discurso da modernização pode servir para escamotear a liquidação do patrimônio público estratégico.

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Imagem em estilo apocalíptico mostrando um enorme data center futurista em formato horizontal, drenando os recursos do planeta. Tubos grossos extraem a última água de um rio seco e sugar energia do solo, que fica carbonizado e rachado. Cabos arrancam minerais e raízes da terra, enquanto o data center brilha com luz intensa e emite ondas de calor sob um céu poluído, em uma paisagem desolada de terra arrasada

Por que a Inteligência Artificial é inimiga do clima

Maurício Moura

A mesma tecnologia que promete salvar o planeta consome recursos em escala continental. Enquanto o Brasil consumia 508 TWh (Terawatt-hora) de eletricidade em 2022, os data centers globais demandavam 460 TWh, com projeções de ultrapassar 1.000 TWh em 2026, equivalente ao consumo anual do Japão 1. Esta contradição define nossa era: a Inteligência Artificial (IA) celebrada por seu potencial climático é também fonte de demanda energética explosiva e impactos ambientais ocultos.

O debate entre tecnófilos e tecnófobos é enganoso. A IA não é ferramenta neutra, mas campo de batalha técnico e político 2. Seu impacto final será determinado pelo modelo de sociedade e interesses econômicos que comandarem sua implantação. Enquanto a indústria de Tecnologias da Informação e Comunicação responde por 1,8% a 2,8% das emissões globais 1, a narrativa hegemônica a vende como salvadora verde. A disputa real opõe uma IA para transição ecológica popular e outra para acumulação verde de lucros.

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Pelo fim da escala 6 x 1

O direito ao descanso como marco civilizatório

Maurício Moura

Em 1880, Paul Lafargue publicava O Direito à Preguiça, denunciando a obsessão das sociedades capitalistas pelo trabalho como uma loucura civilizatória1. Quase século e meio depois, o Brasil continua preso a esta mentalidade.

O atual debate sobre a escala 6×1 — seis dias de trabalho por um de descanso — demonstra a urgência da questão. Nesse sentido, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 8/25, protocolada em fevereiro de 2025, propõe redução da jornada para 36 horas semanais em quatro dias2 e abre espaço para repensarmos a importância do ócio como direito básico — e não como preguiça a ser evitada.

Este artigo examina como a lógica que vê o descanso como inimigo da produtividade está profundamente enraizada na nossa cultura e propõe desafiá-la.

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