De vez em quando gosto de ensinar num jardim infantil ou na instrução primária. Muitas destas crianças são cientistas natos ― embora mais propensas para se maravilharem do que para o cepticismo. Têm curiosidade e vigor intelectual. Delas surgem constantemente perguntas provocadoras e penetrantes. manifestam um entusiasmo enorme. Fazem-me mais perguntas para esclarecer respostas que não as satisfizeram. Nunca ouviram falar de ‘perguntas estúpidas’. – Carl Sagan
A notícia já tem alguns meses, mas vale a pena comentar: uma experiência feita com crianças de uma série de comunidades da Etiópia que nunca tiveram nenhum contato com a palavra escrita pode mudar o rumo do que o senso comum chama de “educação”.
É o seguinte: a OLPC (One Laptop per Children) – Um laptop por criança – estava instalando painéis solares na Etiópia, nos lugares onde não havia eletricidade (para que esses lugares pudessem usar os computadores que eles distribuem). Em dois desses lugares – as aldeias Wonchi e Wolonchete – sem maiores explicações para os habitantes, eles deixaram algumas caixas fechadas com tablets dentro. Não havia nenhuma instrução ou nenhuma pessoa que soubesse usar os equipamentos.
As crianças dessas vilas (cerca de 20 em cada uma com idade entre 4 e 8 anos) nunca tiveram contato algum com equipamentos eletrônicos nem com a palavra escrita nem sequer sinais de trânsito ou embalagens industrializadas.
O objetivo do experimento era registrar a reação das crianças e, para acompanhar o progresso do experimento, os tablets registravam tudo o que se fazia neles e uma vez por semana os pesquisadores iam até as aldeias recolher os dados do equipamento.
Nicholas Negroponte, o Presidente da OLPC, declarou que pensou “que as crianças iriam brincar com as caixas, mas “no espaço de 4 minutos, uma das crianças não só abriu a caixa, como descobriu o botão On/Off e ligou”o equipamento.
A pesquisa continua, mas o resultado após 5 meses foi o seguinte:
- 4 minutos depois que a equipe saiu da aldeia, uma das crianças abriu uma das caixas e ainda ligou o tablet (eles nunca tinham visto um botão de liga/desliga antes);
- uma semana depois, cada criança usava em média 47 aplicativos por dia;
- duas semanas depois, eles estavam disputando quem soletrava o alfabeto mais rápido, e cantavam músicas como o “ABC”;
- cerca de cinco meses depois, eles conseguiram quebrar a proteção do tablet (que impedia a personalização) e, cada um configurou o tablet de uma maneira completamente diferente dos outros. Eles também conseguiram habilitar a câmera, que alguém tinha deixado desabilitada por engano;
- uma das crianças, que usava um programa que ensinava o alfabeto com imagens de animais, abriu um programa de desenho e escreveu “lion”;
- a cada nova descoberta, a criança compartilhava o conhecimento rapidamente com as outras espontaneamente.
Bom, claro que vai ter muita escola particular querendo usar esse resultado pra demitir professor, mas isso, claro, é uma precipitação estúpida.
A lição que tiramos daqui é a que Carl Sagan e Neil deGrasse Tyson já disseram: as crianças nascem cientistas. Nascem curiosas, desprovidas de preconceito e medo de errar. São essas características que temos que manter nos nossos jovens e adultos.
O primeiro passo para os pais é sair da frente [das crianças] – Neil deGrasse Tyson
Saiba mais:
- EmTech Preview: Another Way to Think about Learning
- Given Tablets but No Teachers, Ethiopian Children Teach Themselves
- A experiência com tablets entre as crianças da Etiópia
- Crianças analfabetas na Etiópia aprendem sozinhos a hackear tablets
- No Instructions, No School, No Electricity? No Problem. These Illiterate Ethiopian Kids Mastered Xoom Tablets In a Few Day
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Muito bom! Só espero que essa música ABC não seja aquela do Pelé.
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