Pinkwashing Israel. Tarcísio de Freitas, Ricardo Nunes e evangélicos apoiam genocídio

Não há orgulho sob genocídio

A Parada do Orgulho de Tel Aviv é celebrada internacionalmente como um dos maiores eventos LGBTQIA+ do mundo. Mas por trás das luzes coloridas e dos trios elétricos, há uma estratégia de imagem – o chamado pinkwashing – que busca projetar uma face “progressista” de Israel enquanto as mulheres e crianças palestinas nos territórios ocupados são assassinadas às dezenas todos os dias pelo exército israelense.

O que é pinkwashing?

O termo pinkwashing foi cunhado para descrever o uso de direitos LGBTQIA+ como fachada para encobrir políticas de opressão de um Estado. No caso israelense, trata-se de exibir tolerância e liberdade sexual para desviar o olhar da ocupação, do bloqueio de Gaza e de violações do direito internacional. A campanha “Say No to Pinkwashing”, apoiada pelo movimento BDS, define essa estratégia como “uma propaganda que explora cinicamente os direitos LGBTQIA+ para projetar uma imagem progressista, enquanto oculta políticas de apartheid e ocupação contra os palestinos”1.

Tel Aviv Pride como instrumento de propaganda

Em 2025, figuras internacionais foram convidadas a desfilar como símbolo de solidariedade LGBTQIA+, como a ex-atleta Caitlyn Jenner, que afirmou: “o segundo maior evento do orgulho no mundo é em Tel Aviv… as pessoas israelenses são abertas e amigáveis, ótimas para a comunidade LGBTQIA”2. A declaração foi recebida com escárnio por quem associa essa celebração à instrumentalização de pautas queer para encobrir bombardeios em Gaza e a morte de dezenas de milhares de civis palestinos.

O genocídio em curso em Gaza

Desde outubro de 2023, a ofensiva israelense em Gaza já deixou mais de 61.700 mortos – quase metade crianças – e provocou uma crise humanitária sem precedentes na região2. As Nações Unidas e organizações como a Anistia Internacional alertam para indícios de genocídio: destruição sistemática de infraestrutura civil, bloqueio de alimentos e medicamentos, além de ataques diretos a áreas densamente povoadas. Sob esse contexto, celebrar “orgulho” enquanto o bloqueio impede ajuda humanitária é eticamente insustentável.

O que une a Marcha para Jesus e a o Parada do Orgulho?

Dias antes da Parada de Tel Aviv, o Brasil viveu a 33ª Marcha para Jesus, em São Paulo, que reuniu mais de dois milhões de evangélicos e exibiu forte tom político pró-sionismo. Líderes e fiéis carregaram bandeiras de Israel e discursos mencionaram “bênçãos para a vitória”, em sintonia com a agenda judaica sionista3. O governador Tarcísio de Freitas chegou a subir num trio elétrico envolto em uma bandeira de Israel, gesto que foi criticado pelo governo federal como humilhação à comunidade árabe local4.
Ambos os eventos, com poucos dias de diferença, ilustram como símbolos religiosos e de identidade (arco-íris ou estrela de Davi) podem ser instrumentalizados para proteger narrativas de poder: o primeiro usando a luta LGBTQ+ para maquiar o genocídio em Gaza; o segundo, utilizando a fé evangélica para endossar o sionismo em solo brasileiro.

Vozes críticas e resistência queer

Ativistas palestinos LGBTQ+ e aliados israelenses são unânimes: “Não há orgulho sob genocídio”. A corrente, nascida com o slogan “No Pride in Genocide”, denuncia que a celebração de Tel Aviv serve apenas para mascarar a realidade de ocupação e limpeza étnica5. O jornalista Jean Stern reafirmou que “a miragem rosa de Tel Aviv” não anula o fato de o Estado israelense tentar “fazer desaparecer palestinos, heteros ou homos, de Gaza e Cisjordânia”6.

Conclusão

Enquanto a opressão e a violência contra o povo palestino persistirem, o verdadeiro orgulho só virá quando houver justiça, liberdade e igualdade para todos na região. Qualquer celebração LGBTQ+ que ignore ou obstrua esse panorama torna-se cúmplice de um projeto de extermínio. Defender o orgulho sem denunciar genocídio é um ato de incoerência moral: não existe comunidade livre sem o respeito pelos direitos humanos de todos.


Notas e referências

  1. BDS MOVEMENT. Say No to Pinkwashing. BDS Movement. s.l.: s.d. ↩︎
  2. JENNER, Caitlyn. Caitlyn Jenner under fire for attending Israel Pride Parade and ‘pinkwashing’ amid war. The New Arab. London: 13 jun. 2025. ↩︎ ↩︎
  3. JERONYMOS, Guilherme. Marcha para Jesus mantém tom político com milhares de pessoas em SP. Agência Brasil. Brasília: 19 jun. 2025. ↩︎
  4. MARZULLO, Luísa. Ministro de Lula diz que Tarcísio ‘humilhou’ comunidade árabe ao exibir bandeira de Israel na Marcha para Jesus. O Globo. Rio de Janeiro: 20 jun. 2025. ↩︎
  5. GREGORY, Sara Youngblood. No Pride in Genocide: Calling Out Israel’s Pinkwashing. YES! Magazine. Seattle: 5 fev. 2024. ↩︎
  6. STERN, Jean. Israël. « Pas de gay pride sous génocide ». Orient XXI/Libertalia. Paris: 30 mai 2025. ↩︎

Um pensamento sobre “Não há orgulho sob genocídio

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