Pseudociência institucionalizada: denúncia da Constelação Familiar no Brasil - família manipulada como marionetes, recursos do SUS desperdiçados em rituais, símbolos do ocultismo nazista, tribunal tem decisões baseadas em misticismo

Constelação Familiar: pseudociência, nazismo e dinheiro público

Maurício Moura

A Constelação Familiar (CF), terapia criada pelo alemão Bert Hellinger, virou moda no Brasil, mas esconde uma realidade perigosa. Prometendo resolver conflitos familiares, ela na verdade reforça desigualdades, prejudica vítimas e até influencia decisões judiciais com base em misticismo. Vamos desvendar por que essa prática é uma ameaça real.

As origens

A CF não surgiu do nada: carrega bagagens ideológicas alarmantes. Seu criador, Bert Hellinger (1925-2019), foi soldado nazista durante a Segunda Guerra1. Após o conflito, tornou-se missionário católico na África do Sul, onde distorceu rituais sagrados do povo Zulu para criar suas técnicas2. Sua obra mistura:

  • Misticismo cristão: Transformou conceitos como “pecado original” em “lealdades familiares invisíveis”, criando um determinismo que culpa vítimas por problemas atuais2.
  • Ocultismo nazista: Incorporou teorias racistas de “destino sanguíneo” de grupos ocultistas alemães pós-guerra, rejeitadas pela ciência3.
  • Hierarquia fascista: Seu princípio de obediência inquestionável a “superiores” (pais/homens) espelha a doutrina nazista do Führerprinzip4.

Pilares tóxicos

A terapia opera com o que chama de “Leis do Amor”, que na prática são mecanismos de opressão:

  1. Pertencimento: exige que vítimas “reintegrem” agressores na família, forçando reconciliações simbólicas mesmo em casos de violência5.
  2. Hierarquia: declara homens “superiores por natureza” e mulheres como “cuidadoras”, reforçando estereótipos patriarcais5.
  3. Equilíbrio: pressiona vítimas a “compensar injustiças”, como filhos pedindo perdão a pais abusivos5.

Impactos reais

Por trás dos conceitos abstratos de “sistemas familiares” e “lealdades invisíveis”, a Constelação Familiar produz sofrimento concreto. Seus rituais hierárquicos e pseudocientíficos atingem especialmente grupos vulneráveis, transformando terapia em instrumento de opressão. Conheça as vítimas reais dessa prática:

Mulheres revitimizadas: a CF culpa mulheres por violências sofridas, alegando “falta de submissão”. Em sessões, vítimas de agressão são forçadas a pedir perdão a parceiros violentos – causando crises de ansiedade e retraumatização6.

Comunidade LGBT+ patologizada: Identidades LGBT+ são tratadas como “desequilíbrios sistêmicos”. Pessoas são pressionadas a “abandonar heranças homossexuais” ou reconciliar-se com familiares homofóbicos, intensificando sofrimento psicológico7.

Sobreviventes de trauma em risco: 68% dos participantes relatam piora clínica após sessões. Vítimas de abuso revivem traumas ao “honrar” agressores em rituais, agravando depressão e TEPT8.

Por que é pseudociência?

A CF falha em todos os critérios científicos:

  • Usa conceitos místicos como “campos mórficos” (rejeitados pela Royal Society)3.
  • Resultados não são replicáveis em estudos controlados7.
  • Ignora refutações, alegando “falta de alinhamento sistêmico”9.
    O Conselho Federal de Psicologia a proíbe desde 2023 por falta de base científica10.

Quando o Estado adota pseudociência

O maior perigo da Constelação Familiar surge quando ganha aval institucional: ao infiltrar-se no Judiciário e no SUS, essa pseudociência transforma-se em política de Estado. Com dinheiro público e decisões oficiais, o poder reproduz violências que deveria combater. Nas salas de tribunal e postos de saúde, dogmas místicos substituem direitos e evidências:

Decisões do judiciário baseadas em misticismo: em varas de família de 16 estados, juízes usam CF em processos de guarda de filhos. Mães que denunciam violência doméstica são taxadas como “desordeiros do sistema” e perdem custódia – como no caso emblemático de “Pamela”8. Relatórios alertam que isso corrompe o devido processo legal4.

No SUS: dinheiro público para rituais: em 2022, o SUS gastou R$ 2,3 milhões com 11 mil sessões de CF11. Pacientes com depressão ou TEPT são desviados de terapias comprovadas (como TCC), agravando seus quadros enquanto CAPS sofrem com falta de recursos12.

Urgência de resposta

A Constelação Familiar é uma pseudociência que naturaliza violências, prejudica vulneráveis e desvia recursos públicos. Seu uso em políticas públicas e tribunais é uma afronta à ciência e aos direitos humanos. Precisamos:

  1. Excluí-la do SUS e realocar verbas para terapias baseadas em evidências.
  2. Banir seu uso no Judiciário, seguindo o exemplo de Santa Catarina13.
  3. Alertar a sociedade: práticas místicas não substituem ciência.

A defesa da saúde pública e da justiça exige que confrontemos essa normalização do irracional.


Referências

  1. CARBINATTO, B. O que é a constelação familiar – e quais são seus perigos. Super Interessante, 2024. ↩︎
  2. SILVA, A. R. C.; CAMPOS, M. L. D. Terapias que se convertem em religião: um estudo a partir da constelação familiar. Revista Caminhos, 2024. ↩︎ ↩︎
  3. GYIMESI, J. Family Constellation Therapy in the Context of Esotericism. Perspectives on Psychological Science, 2023. ↩︎ ↩︎
  4. ALMT. Parecer nº 0375/2023. Cuiabá, 2023. ↩︎ ↩︎
  5. FIGUEIREDO, V. L.; EVARISTO, M. F. J. C. B. As constelações familiares como método alternativo de resolução de conflitos no direito de família. IBDFAM, 2021. ↩︎ ↩︎ ↩︎
  6. FERREIRA, C. G. et al. Constelação Familiar e a promoção da economia do medo. Revista da ESMESC, 2021. ↩︎
  7. TAPIA, C. J. R. et al. Constelaciones Familiares: ¿Psicoterapia o pseudoterapia? South Florida Journal of Development, 2021. ↩︎ ↩︎
  8. SOARES, L. C. L. Constelação familiar: os perigos da aplicação de métodos pseudocientíficos no judiciário brasileiro. IBDFAM, 2024. ↩︎ ↩︎
  9. FRETTA, G. C. et al. O status científico da Constelação Familiar. Psicologia e Saúde em Debate, 2025. ↩︎
  10. CFP. Nota Técnica CFP Nº 1/2023. Conselho Federal de Psicologia, 2023. ↩︎
  11. GOUVEIA, J.; BERNARDI, K. Laços de Família: A presença polêmica da Constelação Familiar nas instituições públicas brasileiras. UFSC, 2023. ↩︎
  12. MOURA, J. Os riscos da polêmica terapia de constelação familiar. Deutsche Welle, 2023. ↩︎
  13. PJSC. Judiciário de SC não recomenda a utilização das práticas de constelação familiar. Poder Judiciário de Santa Catarina, 2024. ↩︎

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