Critérios de demarcação científica. O que é e o que não é ciência

Demarcação científica: a ilusão da certeza no verificacionismo e na falseabilidade

Maurício Moura

O problema da demarcação científica, esse espinho cravado na carne da epistemologia desde os gregos, permanece tão atual quanto urgente. Em tempos de negacionismo climático, terraplanismo ressuscitado e medicalização seletiva, a pergunta “o que é ciência?” transformou-se de exercício acadêmico em arma de guerra cultural. O Círculo de Viena e Karl Popper ofereceram as respostas mais influentes do século XX, armados com a convicção de que a lógica e a empiria bastariam para traçar uma linha nítida entre conhecimento válido e superstição. Sete décadas depois, suas soluções mostram-se não apenas incompletas, mas perigosamente enganosas quando aplicadas como critérios universais.

Este artigo desmonta os alicerces desses modelos clássicos, demonstrando por que verificacionismo e falseabilidade falham redondamente como critérios absolutos de demarcação. Suas limitações não são meras curiosidades filosóficas: são falhas estruturais que perpetuam hierarquias epistêmicas, excluem saberes legítimos e instrumentalizam a ciência para projetos de poder. Nas trincheiras do debate público, onde se decide desde políticas de vacinação até currículos educacionais, entender essas limitações é questão de sobrevivência cognitiva.

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Audiência Pública em defesa da História - ANPUH-SP

Corte de 35% nas aulas de História em SP ameaça democracia, alerta presidente da ANPUH-SP

Em meio a cortes históricos nas disciplinas de humanidades e à escalada de políticas que ameaçam a autonomia docente, a Associação Nacional de História – Seção São Paulo (ANPUH-SP) convoca a sociedade para uma resistência urgente. Nesta entrevista exclusiva, o professor Everaldo Andrade, do Departamento de História da Universidade de São Paulo e presidente da entidade, detalha como o governo Tarcísio de Freitas promoveu, em cinco anos, uma redução de 35,1% na carga horária de História e Geografia no ensino médio estadual, um retrocesso que inviabiliza a formação crítica de jovens e silencia as raízes das lutas democráticas.

Com a plataformização do ensino via “Escola Total”, a perseguição a profissionais da área e o avanço de grupos negacionistas, Andrade alerta: “O ataque à História é um projeto autoritário”. Na véspera da audiência pública na Assembleia Legislativa (20/08, 14h30), ele explica por que a campanha #MaisHistória é um grito pela democracia, e como a mobilização social pode barrar a erosão do conhecimento. Leia a seguir a análise contundente de quem defende, nas trincheiras educacionais, a memória viva do Brasil.

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Multidão de trabalhadores israelenses e palestinos unidos em protesto durante greve geral em Tel Aviv, com megafone caído sobre paralelepípedos e pichação 'Greve Geral 17/8' em vermelho, bandeiras de Israel e Palestina ao fundo e fumaça na skyline urbana.

Greve geral em Israel: o povo exige o fim da guerra

Em um movimento de desafio aberto ao governo neofascista de Netanyahu, famílias de reféns israelenses mantidos em Gaza convocaram uma greve geral para o próximo domingo (17 de agosto) 1 2. A paralisação, apoiada por partidos da oposição e pelo Conselho 7 de Outubro (que representa parentes de vítimas do ataque de 2023), surge como resposta à decisão do Gabinete de Segurança de Israel de expandir a ofensiva militar para ocupar a Cidade de Gaza 3 4. Organizadores alertam que a operação representa risco mortal para reféns ainda sob custódia do Hamas 5.

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Pseudociência institucionalizada: denúncia da Constelação Familiar no Brasil - família manipulada como marionetes, recursos do SUS desperdiçados em rituais, símbolos do ocultismo nazista, tribunal tem decisões baseadas em misticismo

Constelação Familiar: pseudociência, nazismo e dinheiro público

Maurício Moura

A Constelação Familiar (CF), terapia criada pelo alemão Bert Hellinger, virou moda no Brasil, mas esconde uma realidade perigosa. Prometendo resolver conflitos familiares, ela na verdade reforça desigualdades, prejudica vítimas e até influencia decisões judiciais com base em misticismo. Vamos desvendar por que essa prática é uma ameaça real.

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A inevitabilidade do viés no algoritmo: como Big Techs lucram com discriminação digital

Maurício Moura

Vivemos imersos em algoritmos. Das redes sociais aos sistemas de saúde, essas fórmulas matemáticas moldam nossa realidade digital. Mas há um segredo sujo: algoritmos não são neutros. Eles refletem preconceitos humanos e interesses corporativos, transformando discriminação em negócio. Neste artigo, revelamos como o viés algorítmico se tornou um produto rentável para Big Techs e o que podemos fazer para frear essa máquina de desigualdade 1.

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Ontopsicologia, Campo Semântico, Monitor de Deflexão, Em Si Ôntico: Pseudociência

Anti-intelectualismo: a farsa científica da ontopsicologia

Maurício Moura

A ontopsicologia, fundada pelo italiano Antonio Meneghetti na década de 1970, apresenta-se como “ciência da subjetividade humana” através de três pilares teóricos: In-Sé ôntico (núcleo psíquico “puro”), Monitor de Deflexão (mecanismo de desvio existencial) e Campo Semântico (comunicação telepática). Sua classificação como pseudociência é consensual entre as entidades profissionais de psicólogos, como o Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRP-RS), que rejeitam sua base empírica e metodológica (OLIVEIRA, 2016; JORNAL NACIONAL, 2002). Este artigo analisa criticamente como essa corrente sintetiza tendências anti-intelectuais contemporâneas, apropria-se seletivamente de narrativas pós-modernas e replica estruturas autoritárias, configurando risco à integridade epistemológica e à democracia. A relevância social do tema radica na expansão global de movimentos pseudocientíficos que minam instituições democráticas e exploram vulnerabilidades socioeconômicas.

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Máfias da soberania: como a extrema direita global opera como crime organizado

Maurício Moura

A ascensão global de movimentos de extrema direita reconfigurou práticas políticas tradicionais, incorporando métodos historicamente associados ao crime organizado. Este fenômeno manifesta-se através de uma hibridização perigosa entre estruturas estatais e mecanismos ilícitos, onde lealdades pessoais suplantam compromissos institucionais (RODRIGUES, 2017). A investigação aqui proposta parte de uma premissa crítica: grupos como a aliança Trump-Bolsonaro operam segundo uma lógica que transcende o autoritarismo convencional, apropriando-se de estratégias típicas de organizações mafiosas, como extorsão sistêmica, evasão financeira transnacional e instrumentalização de crises (G1, 2024; SPITZECK, 2019).

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Roger Waters - In The Flesh - The Wall

Roger Waters hoje: como ‘In The Flesh?’ antecipa os novos autoritarismos

Maurício Moura

Lançado em 1979 como parte do álbum conceitual The Wall, a canção “In The Flesh?” surge num contexto histórico marcado pela crise do Estado de Bem-Estar Social, ascensão de governos conservadores (Reagan, Thatcher) e ressurgimento de movimentos neofascistas na Europa. A obra de Roger Waters com o Pink Floyd reflete uma crítica multifacetada aos mecanismos autoritários, analisando tanto estruturas político-sociais quanto processos psicológicos de alienação. Este artigo propõe que a canção constitui uma radiografia dos dispositivos de controle ideológico cuja atualidade manifesta-se nos novos autoritarismos do século XXI, incluindo práticas sionistas contemporâneas. Através de metodologia integrada que conjuga análise musical com teoria política, demonstraremos como a obra antecipou dinâmicas de manipulação coletiva que hoje se reconfiguram. O objetivo é a construção de pontes para superar os desafios atuais da resistência democrática.

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Pós-Modernismo e fascismo: anatomia de uma síntese reacionária

Maurício Moura

O ressurgimento global de movimentos autoritários no século XXI, paralelamente à crise dos paradigmas racionais, demanda análise das relações entre pós-modernismo e o que Umberto Eco denominou “fascismo eterno” 1. Este artigo examina como elementos do fascismo histórico ressurgem em discursos que instrumentalizam críticas pós-modernas à razão e à verdade objetiva. Partindo da premissa de Jameson 2 sobre a crise estrutural do capitalismo em sua etapa imperialista, argumenta-se que ambas as formas de consciência social emergem como respostas mediadas por esta crise sistêmica. A tese central sustenta que o esvaziamento das críticas pós-modernas de seu potencial emancipatório permite sua cooptação por projetos autoritários, criando sínteses perigosas no campo discursivo contemporâneo.

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Ur-Fascismo: a vigilância perpétua de Umberto Eco contra o autoritarismo

Maurício Moura

Umberto Eco, semiólogo e romancista italiano, deixou um legado intelectual que transcende as fronteiras da academia. Seu ensaio “Ur-Fascismo” (1995), escrito para o 50º aniversário da libertação da Europa, permanece uma ferramenta crucial para decifrar os autoritarismos do século XXI. Este artigo explora como as 14 características do “fascismo eterno” identificadas por Eco iluminam fenômenos contemporâneos como o trumpismo, o bolsonarismo e certas correntes do sionismo, revelando padrões inquietantes que desafiam as democracias modernas 1.

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