Ilustração em estilo anatômico de uma cabeça humana em perfil, revelando camadas internas com diagramas, padrões culturais e estruturas sociais, representando a religião como construção humana complexa.

A religião além da fé: uma visão científica

Maurício Moura

A religião é uma das forças mais antigas e duradouras da experiência humana. Ela constrói impérios e os derruba, inspira a mais profunda compaixão e justifica a mais brutal violência. Mas, para além da crença ou da descrença individual, o que é a religião, realmente? A resposta oficial, aquela que encontramos na superfície, é uma questão de fé e revelação divina. No entanto, quando aplicamos as lentes da sociologia, da antropologia, da história e da psicologia, uma narrativa muito mais complexa e fascinante emerge: uma narrativa sobre poder, coesão social, medo existencial e a luta pela ordem em um mundo caótico.

Este artigo não busca provar ou refutar a existência do divino. Esse é um terreno metafísico onde a ciência não pode e não deve pisar. Nosso objetivo é mais profundo: desnaturalizar a religião, tratando-a não como um dado sobrenatural, mas como um fenômeno humano, social e histórico, passível de investigação crítica. Quais funções ela desempenha? A quem serve? Como ela se molda e é moldada pelas estruturas de poder? Ao desvendar esses mecanismos, armamos o cidadão com as ferramentas para entender uma das instituições mais influentes de sua vida, seja ele um devoto fervoroso ou um cético declarado.

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IX Congresso da Associação Internacional do Livre Pensamento

Participe do Congresso Internacional de Livre Pensamento – 2025

Em um mundo onde os fundamentalismos religiosos e os ataques ao Estado Laico se intensificam, a união e a voz coletiva dos que defendem a razão, a liberdade de consciência e a justiça social são mais urgentes do que nunca. É com este espírito de resistência e solidariedade internacional que a Associação Internacional do Livre Pensamento (AILP) convoca o seu IX Congresso.

Dirigimo-nos especialmente às nossas camaradas e aos nossos camaradas de todas as associações de livre pensamento, humanistas, racionalistas, materialistas, ateias e laicas da Lusofonia – de Portugal ao Brasil, de Angola a Moçambique, de Cabo Verde à Guiné-Bissau, de São Tomé e Príncipe a Timor-Leste – para juntarem-se a nós neste encontro crucial.

Os desafios que enfrentamos em nossas nações, embora diversos em seu contexto, são profundamente semelhantes em sua essência: a luta contra os privilégios das igrejas, a busca por reparação para as vítimas de seus crimes, e a defesa intransigente de um espaço público secular onde nenhuma crença possa impor sua lei. A riqueza de experiências e estratégias dos países lusófonos é uma contribuição inestimável para esta luta global.

Este congresso será um espaço privilegiado para fortalecer os laços de ajuda mútua entre livres-pensadores de todos os continentes, para denunciar os crimes das igrejas e articular ações por justiça e reparação e para debater estratégias comuns para enfrentar o poder temporal e a riqueza das instituições religiosas.

Convidamos todas as organizações irmãs a participarem ativamente deste diálogo fraterno, contribuindo com suas experiências e ajudando a moldar a Declaração Internacional que será produzida. Sua presença e sua voz são indispensáveis para que este congresso verdadeiramente represente a diversidade e a força do livre pensamento em todo o mundo.

Contamos convosco!

Abaixo, seguem a Carta-Convite oficial com todos os detalhes temáticos e organizativos, e o Programa provisório do congresso.

Juntos pela Razão, pela Laicidade e pela Emancipação Humana!

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Congressio nacional do Livre Pensamento da França

Congresso nacional do Livre Pensamento na França

Em agosto de 2025, a Federação Nacional do Livre Pensamento (FNLP) da França, integrante da Associação Internacional do Livre Pensamento (AILP), realizou seu Congresso Nacional na comuna de Le Garric, no departamento de Tarn. O local escolhido carrega profundo simbolismo: uma região de tradição mineira e operária, berço do socialista e pacifista Jean Jaurès, cujo legado intelectual ainda permeia as lutas contemporâneas. Este congresso, ocorrido entre os dias 19 e 22, serviu como plataforma para reafirmar os combates históricos do movimento: a defesa intransigente da lei de 1905 de separação entre Igrejas e Estado, ameaçada por legislações recentes, e a luta incansável contra a guerra.

A entrevista a seguir, concedida por Christian Eyschen, secretário-geral da organização, a David Combes, foi originalmente publicada no jornal Informations Ouvrières (nº 873), oferecendo um balanço detalhado dos debates e resoluções do encontro, que reacendeu o chamado ao ativismo laico, pacifista e internacionalista.

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Multidão de trabalhadores israelenses e palestinos unidos em protesto durante greve geral em Tel Aviv, com megafone caído sobre paralelepípedos e pichação 'Greve Geral 17/8' em vermelho, bandeiras de Israel e Palestina ao fundo e fumaça na skyline urbana.

Greve geral em Israel: o povo exige o fim da guerra

Em um movimento de desafio aberto ao governo neofascista de Netanyahu, famílias de reféns israelenses mantidos em Gaza convocaram uma greve geral para o próximo domingo (17 de agosto) 1 2. A paralisação, apoiada por partidos da oposição e pelo Conselho 7 de Outubro (que representa parentes de vítimas do ataque de 2023), surge como resposta à decisão do Gabinete de Segurança de Israel de expandir a ofensiva militar para ocupar a Cidade de Gaza 3 4. Organizadores alertam que a operação representa risco mortal para reféns ainda sob custódia do Hamas 5.

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Governos atacam a educação. Livros queimados. Capitalismo de vigilância

Educação sob ataque sistemático

Maurício Moura

Os crescentes casos de perseguição a docentes em todo o território nacional revelam padrões preocupantes de censura pedagógica que demandam análise urgente1. Este fenômeno transcende episódios isolados, configurando um projeto articulado de cerceamento ao direito constitucional da liberdade de cátedra, com graves implicações para o futuro da educação pública.

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Pinkwashing Israel. Tarcísio de Freitas, Ricardo Nunes e evangélicos apoiam genocídio

Não há orgulho sob genocídio

A Parada do Orgulho de Tel Aviv é celebrada internacionalmente como um dos maiores eventos LGBTQIA+ do mundo. Mas por trás das luzes coloridas e dos trios elétricos, há uma estratégia de imagem – o chamado pinkwashing – que busca projetar uma face “progressista” de Israel enquanto as mulheres e crianças palestinas nos territórios ocupados são assassinadas às dezenas todos os dias pelo exército israelense.

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Sionismo significa a destruição física do povo palestino

Uma análise dialética dos argumentos do sionismo

A discussão sobre o sionismo e a fundação do Estado de Israel costuma ser marcada por forte polarização, entre acusações de antissemitismo e denúncias de colonialismo. Esse quadro dificulta abordagens críticas e emancipatórias que considerem tanto a realidade histórica do antissemitismo quanto os impactos concretos da criação do Estado israelense sobre a população palestina.

Neste artigo, propomos uma leitura baseada no materialismo e na dialética, que parta do princípio de que as ideias, valores e instituições são produtos das condições materiais concretas da vida social, e não expressões imutáveis de identidades ou crenças1. Entender a sociedade é como desmontar um relógio para ver como as engrenagens (condições materiais) se movem e se transformam, e não apenas olhar para as horas (ideias).

Nosso objetivo é analisar os principais argumentos do sionismo — não apenas em seu conteúdo formal, mas nas relações de poder, interesses materiais e contradições que os sustentam.

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Cartaz no muro da vergonha por uma terra de todos os povos: pelo direito ao retorno

Palestina além do Estado: resistência e alternativas

Este artigo explora a luta palestina para além da narrativa tradicional de um Estado nacional, analisando o conflito sob uma perspectiva anticolonial e materialista. Demonstramos como o imperialismo moldou a ocupação israelense por meio de um projeto colonial de assentamento e examinamos alternativas para a autodeterminação dos vários povos da Palestina. Argumentamos que a solução de dois Estados é estruturalmente inviável devido à expansão contínua dos assentamentos e à lógica do capitalismo racial israelense. Defendemos um modelo de Estado único democrático e laico em toda a Palestina histórica, fundamentado no direito de retorno e na justiça social.

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Apelo pelo respeito à laicidade

Por ocasião do 9 de dezembro de 2016, aniversário da promulgação da lei de 1905 da separação entre Igreja e Estado*

(para assinar, clique aqui)

É pouco dizer que a laicidade vai mal: maltratada, manipulada, vilipendiada, sem ousar se afirmar laica por medo de amálgamas e más interpretações. Princípio de paz, teria se tornado assunto de discórdia. Princípio de unidade para além das diferenças, a ela são atribuídos fins identitários.

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A decisão do impeachment e a ameaça à laicidade do Estado

Witemburgo G. de Araújo*

Após a votação do impeachment pela Câmara dos Deputados (17/04), cabem algumas divagações sobre os principais efeitos decorrentes do afastamento da Presidente Dilma Rousseff, caso este venha a ser confirmado pelo Senado Federal.

Sem adentrar no mérito das consequências que advirão de uma possível ascensão do Vice-Presidente, Michel Temer, à Presidência da República, exclusivamente do ponto de vista dos aspectos econômico e político, pretende-se aqui realizar uma abordagem de seus prováveis efeitos sob uma perspectiva da liberdade de consciência e de crença.

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