Pós-Modernismo e fascismo: anatomia de uma síntese reacionária

Maurício Moura

O ressurgimento global de movimentos autoritários no século XXI, paralelamente à crise dos paradigmas racionais, demanda análise das relações entre pós-modernismo e o que Umberto Eco denominou “fascismo eterno” 1. Este artigo examina como elementos do fascismo histórico ressurgem em discursos que instrumentalizam críticas pós-modernas à razão e à verdade objetiva. Partindo da premissa de Jameson 2 sobre a crise estrutural do capitalismo em sua etapa imperialista, argumenta-se que ambas as formas de consciência social emergem como respostas mediadas por esta crise sistêmica. A tese central sustenta que o esvaziamento das críticas pós-modernas de seu potencial emancipatório permite sua cooptação por projetos autoritários, criando sínteses perigosas no campo discursivo contemporâneo.

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Campo de concentração de Israel em Rafah

Israel anuncia criação de campo de concentração em Rafah

Em 7 de julho de 2025, o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, anunciou a criação de um campo de confinamento em massa nas ruínas de Rafah, no sul da Faixa de Gaza 1. Oficialmente designado como “cidade humanitária”, o projeto visa concentrar inicialmente 600 mil palestinos, mas com potencial expansão para milhões, em uma área cercada por barreiras militares e com restrição de movimentos 2. O anúncio ocorre após a destruição de 75% das estruturas civis em Rafah por ofensivas israelenses, segundo dados da ONU 3. Este artigo examina como a iniciativa combina argumentos de segurança com controle populacional, violando princípios basilares do Direito Internacional Humanitário (DIH) e ocorrendo sob investigação do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) por genocídio 4.

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Retórica identitária lutas sociais identitarismo

Retórica identitária e enfraquecimento das lutas sociais

Maurício Moura

A ascensão de políticas identitárias nas últimas décadas tem reconfigurado radicalmente o cenário das lutas sociais. Enquanto movimentos históricos por direitos trabalhistas, reforma agrária ou igualdade racial concentravam-se em transformações materiais, uma nova ênfase em identidades subjetivas (quem eu acho que é igual a mim) fragmenta e despolitiza as reivindicações do povo. Essa mudança não é acidental: coincide com a reestruturação capitalista global dos anos 1980, que promoveu o recuo do Estado social e a financeirização da economia. O resultado é a substituição de projetos coletivos de emancipação por microdisputas simbólicas, muitas vezes cooptadas por corporações e governos para camuflar a manutenção de privilégios econômicos.

Nesse contexto, é urgente distinguir entre a pauta democrática, que visa conquistar as reivindicações objetivas dos trabalhadores, e políticas identitárias que, mesmo quando bem-intencionadas, reduzem conflitos sociais a questões de autorreconhecimento ou representação simbólica. Tendências do feminismo liberal, por exemplo, celebram CEO mulheres enquanto ignoram trabalhadoras sem creche. ONGs antirracistas aceitam doações de bancos que financiam prisões em massa de negros. Essa confusão entre identidade e interesse material não apenas enfraquece a resistência popular, mas também alimenta a extrema-direita, que manipula narrativas identitárias (nacionalismo, fundamentalismo religioso) para consolidar projetos autoritários.

Este texto propõe analisar essa dinâmica a partir de quatro eixos: a natureza social das identidades e sua instrumentalização política, a apropriação das causas identitárias pela extrema-direita, a cooptação mercantil das lutas por reconhecimento e propostas para reconstruir a unidade das lutas populares a partir de necessidades materiais.

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Pinkwashing Israel. Tarcísio de Freitas, Ricardo Nunes e evangélicos apoiam genocídio

Não há orgulho sob genocídio

A Parada do Orgulho de Tel Aviv é celebrada internacionalmente como um dos maiores eventos LGBTQIA+ do mundo. Mas por trás das luzes coloridas e dos trios elétricos, há uma estratégia de imagem – o chamado pinkwashing – que busca projetar uma face “progressista” de Israel enquanto as mulheres e crianças palestinas nos territórios ocupados são assassinadas às dezenas todos os dias pelo exército israelense.

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