Este vídeo é um trecho do evento Vision & Brilliance, do The Connecticut Forum. Esse evento junta especialistas em diferentes áreas para como “um tempo para imaginar e pensar sobre tecnologia, ciência, design e o futuro”.
Neste encontro, moderado pelo apresentador do programa radiofônico Where We Live, John Dankosky, foram convidados Neil deGrasse Tyson, Neil Gaiman e Neri Oxman.
Neil DeGrasse Tyson é figura sempre presente aqui. “O mais popular astrofísico do Universo”, é um cientista constantemente entrevistado em vários programas. Já se tornou parte da cultura popular. Virou até meme!
Neil Gaiman é uma figura da cultura pop e dos quadrinhos. Autor de Sandman, Stardust e Deuses Americanos, Gaiman é, além de um grande autor, um pesquisador das religiões.
Neri Oxman, que só aparece neste trecho, mas não fala, é designer com grande interesse em materiais e formas da natureza. É diretora do MIT Media Lab e é fundadora do laboratório de desing MaterialEcology.
Neste vídeo, deGrasse e Gaiman discorrem sobre o limite entre a ciência e a religião e sobre o argumento que tenta justificar a existência do divino a partir daquilo que não conhecemos “ainda”.
Veja também o texto de Michael Shermer: Como a crença em extraterrestres e no Design Inteligente são similares.
John Dankosky – Por que a religião tem um atraso tão persistente no pensamento humano, apesar de tudo o que sabemos da Ciência?
Neil deGrasse Tyson – Eu acho que há várias maneiras de responder esta pergunta. Deixe-me responder em uma…
Considere não muito tempo atrás, quando muito do mundo ocidental, era… o Estado era a religião e nós realmente nos movemos a uma boa distância disso, comparado a 200, 300, 400 anos atrás, na era da Inquisição e esse tipo de coisa.
Assim, dizer que há tal adesão, é uma fração da adesão que havia antes, no funcionamento do comportamento humano em nossa sociedade. Então, a pergunta real é, se está implícito nisso, é: dado o que sabemos da Ciência, por que a religião ainda tem alguma adesão? Não porque ainda tenha uma grande adesão, pois não tem, quando você observa o mundo desenvolvido.
De fato, na maior parte da Europa existem países inteiros onde a religião desapareceu por completo. E esses países não estão cheios de violência. A suposição que você tem que ser religioso para ser moral é uma suposição falsa. É empiricamente falsa pois, se você olhar por aí, em lugares onde este é o caso.
Então existe este primeiro fato. Deixando isso um pouco de lado, existe muito do que acontece em textos religiosos que tem um valor enorme sobre como pensar sobre a vida, sobre como tratar um ao outro. De fato, Jefferson criou o que foi essencialmente… Thomas Jefferson criou a Bíblia de Jefferson. Não sei se há ouviram falar nisso. Ele pegou a Bíblia, acho que tanto o Velho quanto o Novo Testamento, e riscou tudo o que era mítico e mágico – coisas que claramente violam as leis conhecidas da Natureza – e manteve o resto.
Ele disse: “Aqui estão as coisas da Bíblia que deveriam ter valor para qualquer pessoa moderna daqui em diante”.
Se você observar as pessoas que são religiosas hoje, que não estão em conflito com a Ciência, elas vêem seus textos religiosos como algo que lhes dá apoio espiritual, não como um livro de Ciência. O conflito na sociedade é quando você tem aqueles que ainda são religiosos, que querem usar seus textos religiosos como um ponto de acesso para compreender o mundo natural. E os esforços persistentes do passado para fazer isso acontecer simplesmente fracassaram.
A Bíblia não funciona como um livro de Ciência. Aliás, Galileu sabia disso, sendo ele próprio um homem religioso. Ele tem uma citação famosa que diz: “A Bíblia lhe diz como ir para o paraíso, não como o paraíso está”.
Assim, nessa escala, o conflito acontece quando alguns segumentos da comunidade religiosa se sentem ameaçadas pelas descobertas científicas que são diferentes de como eles interpretam de como o mundo natural deveria ser na Bíblia.
Neil Gaiman – Eu acho que este é o ponto onde você chega no conceito de “Deus das Lacunas”. Você não compreende isso, você sabe, a Ciência vai até um ponto, você não entende além daquilo, portanto, aquilo é Deus. s coisas que não entedemos, isto é Deus. E o problema com isso é o momento em que você realmente chega e diz: “Não, agora compreendemos isso”. E as pessoas fogem disso. E isso volta a questões das coisas simples e legais como o arco íris – a questão de o arco-íris ser na verdade um efeito ótico, não algo mágico que é colocano lá no céu para lembrar do dilúvio.
DeGrasse – E mais, você sabia que todo mundo vê um arco-íris único?
Gaiman – Não!
DeGrasse – Isso mesmo. O arco-íris é um efeito ótico para a pessoa que o vê. Então, se você estiver a 15 metros à minha esquerda, você verá realmente um arco-íris diferente do que eu vejo. Isto é um fato notável e engraçado sobre o arco-íris.
Gaiman – O meu fato favorito e engraçado sobre o arco-íris é o fato de que antes se acreditava que tinha seis faixas de cores, mas então Isaac Newton adicionou o anil antes do violeta. Newton gostava do número sete.
DeGrasse – O número 7, ele tinha um sentimento místico sobre o número 7. Jogou o anil onde ninguém consegue ver.
Gaiman – que é que realmente vai dizer, anil e violeta.. Ali está o anil! Você não diz, você diz violeta.
DeGrasse – Exatamente.
Gaiman – Azul e violeta.
DeGrasse – Outra coisa sobre o arco-íris, como cada arco-íris é único para cada observador, será somente um arco-íris que esteja exatamente de frente para você. Você nunca viu um arco-íris em um ângulo oblíquo. Pense sobre isso. Ele é exatamente esférico na sua frente. É por isso que você nunca vai conseguir chegar na base do arco-íris, pois aí sua perspectiva sobre ele mudaria. É por isso que o torna um bom lugar para esconder o ouro. Caso vocês não saibam, certo?
Gaiman – Você está se mostrando aqui como um descrente em duendes. Pessoas foram queimadas na fogueira por isso.
DeGrasse – Outra coisa que você mencionou sobre o “Deus das Lacunas”: em uma sociedade livre, uma sociedade livre e plural, onde a liberdade da expressão religiosa está constitucionalmente protegida – que é uma parte fundamental do por quê os EUA são tão atraentes para os imigrantes ao redor do mundo, cujas diferenças religiosas não eram apoiadas em suas cidades natal – eu nunca vou querer dizer a você o que você deveria acreditar ou o que você não deveria acreditar. O que eu diria, é que, se você quiser dizer que onde nós não compreendemos as coisas, é aí onde Deus está. É aí que Deus opera. O argumento do “Deus das Lacunas”. Pois me perguntam isso a toda hora: “O que havia antes do Universo ?”. Eu não sei. “Mas deve existir alguma coisa!”. Então Deus fica lá grudado onde nós não chegamos ainda. E eu digo “nós temos uns caras fodões trabalhando nisso”!
É uma fronteira comum. Não chegamos lá ainda. E dada a história da fronteira em movimento, quando as pessoas anteriormente diziam “Deus deve estar operando”, nós passamos além disso e essas explicações chegaram. Então não existe uma razão convincente de dizer “Deus fez” e então desistir e ir para o próximo problema.
Meu problema com o “Deus das Lacunas” é que, se você sentir que é desta forma, você não deveria estar escrevendo um currículo para as aulas de Ciência!
Certo? Isso é tudo!
Porque, se você o faz, você está destruindo o exato processo sobre o que é Ciência. Porque o princípio do “Deus das Lacunas” é uma filosofia da ignorância, enquanto a Ciência é a a filosofia da descoberta. Existe uma distinção importante entre as duas: se você remover a fundação sobre a qual se desenvolve a Ciência, você está destruindo a capacidade da sua cultura, da sua Nação, de competir tecnologicamente no século XXI.
Assim, não vai deixar de ter consequencias ao se comportar dessa maneira.
Transcrição e adaptação: Maurício Sauerbronn de Moura