Claudia S. M.
“Teu feminismo burguês me oprime
Quando tentas me impor que sou livre
E me faz lavar teu banheiro, tuas calcinhas,
E dentro da tua casa sou assediada pelo patrão
“Mas quem nunca caiu em tentação … ele é homem”
É teu pai, é teu irmão,
É quem vai pagar tuas contas, teus mimos, tuas baladas
E mais uma vez a culpa é da empregada
Me fala de aborto, me fala que sou dona do meu corpo, de liberdade, escolhas…
Pois teu corpo quem manda é o dinheiro, se tu errar, engravidar,
Vai ter uma clinica limpinha pra abortar
Se minhas escolhas não forem certas, vou parar num quartinho sujo,
Vou sangrar, posso morrer de uma infecção qualquer,
Porque não podia engravidar, pois tenho teu banheiro pra limpar,
Contas pra pagar, e mais uma criança, nem da pra sustentar
Saiu pintada, vai pra marcha, e fala que é mais uma Vadia
Quando não sabe o peso dessas palavras pra quem sempre as carregou
Quem apanhou em casa, quem foi humilhada, quem carrega um estigma,
Tu brincas de ser livre e me fala de união entre as mulheres, pois, sofremos iguais,
Eu te digo meu sofrimento é mil vezes mais
Teu feminismo burguês me oprime, reprime e reafirma,
No teu mundo não existe igualdade,
Teu dinheiro compra tua liberdade.”
Não sei que tipo de feminista é essa que tentaram pintar aí, que acha ok seus parentes homens abusarem de uma trabalhadora doméstica. Também não sabia que “burguesa” não apanhava, não era humilhada e ridicularizada, xingada de “vadia” por estranhos. Essas mulheres também são estupradas por conhecidos, seus tios, seus pais; também morrem em abortos ilegais mal executados. Porque nisso tudo o fator determinante é o gênero, e “burguesas” também são mulheres 100% do tempo. Temos muita desigualdade social no Brasil sim, e isso precisa ser enfrentado com seriedade para empoderarmos mulheres pobres e negras, que são as maiores vítimas de violência. Mas esse tipo de discurso é um desserviço ao feminismo. Nas diversas classes, existem experiências de opressão diferentes e todas elas são importantes. Todas elas causam sofrimento. Desvalorizar a dor alheia é muito feio.
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Desserviço é esse discurso pós-moderno, conservador e reacionário, que abstrai a violência quotidiana sofrida pelo trabalhador por um moralismo idealizado e anti-científico, que prefere a Kátia Abreu defendendo o trabalho escravo do que qualquer um defendendo salário justo.
Sugiro a leitura de dois outros textos aqui mesmo no site:
– Pós-modernismo e o feminismo reacionário
– Pós-modernismo e a pseudociência que prejudica a mulher
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