Por trás do espetáculo, os dois lados da mesma lógica de consumo que incinera o planeta
Maurício Moura
A COP30 em Belém já começou e o roteiro segue implacável. Enquanto negociadores debatem vírgulas em textos que poucos lerão e corporações anunciam “compromissos climáticos” em eventos paralelos, a máquina do capitalismo verde acelera. Do outro lado da cidade, a Cúpula dos Povos entra em seu clímax retórico, com discursos inflamados que ecoam em salas superlotadas. Mas o que parece oposição é, na verdade, simbiose: ambas as esferas validam a premissa fundamental de que a crise climática pode ser resolvida sem questionar o paradigma do crescimento infinito.
A coreografia é a mesma: na zona oficial, fala-se em “neutralidade carbônica” e “mercados de carbono”, conceitos que transformam a atmosfera em commodity e, na “zona alternativa”, denuncia-se a “economia verde” enquanto propõe “alternativas” que utilizam estritamente a mesma lógica. A contradição não é acidental, mas estrutural.
A verdade que nenhum dos lados quer encarar é que o problema não é como produzir energia, mas por que consumimos tanta. Enquanto a COP30 aprimora a maquiagem verde do capitalismo, a Cúpula dos Povos oferece o contraponto folclórico que torna a farsa crível. O planeta, entretanto, não se deixa enganar pela encenação.
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