Painel com os logotipos da COP30 e da Cúpula dos Povos fixado em um tapume de madeira; ao fundo, vê-se uma área de floresta queimada e garimpo aberto, com fumaça e árvores carbonizadas

COP30 e Cúpula dos Povos: as duas faces da mesma farsa verde

Por trás do espetáculo, os dois lados da mesma lógica de consumo que incinera o planeta

Maurício Moura

A COP30 em Belém já começou e o roteiro segue implacável. Enquanto negociadores debatem vírgulas em textos que poucos lerão e corporações anunciam “compromissos climáticos” em eventos paralelos, a máquina do capitalismo verde acelera. Do outro lado da cidade, a Cúpula dos Povos entra em seu clímax retórico, com discursos inflamados que ecoam em salas superlotadas. Mas o que parece oposição é, na verdade, simbiose: ambas as esferas validam a premissa fundamental de que a crise climática pode ser resolvida sem questionar o paradigma do crescimento infinito.

A coreografia é a mesma: na zona oficial, fala-se em “neutralidade carbônica” e “mercados de carbono”, conceitos que transformam a atmosfera em commodity e, na “zona alternativa”, denuncia-se a “economia verde” enquanto propõe “alternativas” que utilizam estritamente a mesma lógica. A contradição não é acidental, mas estrutural.

A verdade que nenhum dos lados quer encarar é que o problema não é como produzir energia, mas por que consumimos tanta. Enquanto a COP30 aprimora a maquiagem verde do capitalismo, a Cúpula dos Povos oferece o contraponto folclórico que torna a farsa crível. O planeta, entretanto, não se deixa enganar pela encenação.

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Ratinho Júnior roendo a Celepar em cima de uma pilha de dinheiro

Ratinho Júnior vende os dados dos paranaenses em negócio secreto

Governo Ratinho Júnior insiste em leiloar os dados sensíveis de milhões de paranaenses, ignorando alertas judiciais, técnicos e a própria lógica do interesse público.

Maurício Moura

A Celepar (Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná) não é uma empresa estatal qualquer. Como primeira empresa pública de TI do Brasil, fundada em 1964, ela representa o cérebro digital do Estado: a custódia de informações que vão desde prontuários de saúde até operações de segurança pública. A insistência do governador Ratinho Júnior em privatizá-la, no entanto, não se sustenta em prejuízos ou ineficiência. Pelo contrário: a empresa é lucrativa e superavitária, com lucro líquido de R$ 130 milhões e faturamento de R$ 760 milhões nos últimos dois anos 1. Este processo, aprovado pela Assembleia Legislativa em apenas nove dias sob regime de urgência, representa um caso paradigmático de como o discurso da modernização pode servir para escamotear a liquidação do patrimônio público estratégico.

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Fotografia mostra um homem pobre ajoelhado de costas em um beco escuro, com as mãos atrás da cabeça. À direita, uma figura sombria segura uma pistola apontada para ele. No primeiro plano, um distintivo policial e dinheiro estão sobre uma caixa de madeira. Simboliza a atuação dos esquadrões da morte na polícia do Rio de Janeiro

Gratificação Faroeste: a legalização dos Esquadrões da Morte no Rio

Ao aprovar um bônus por “neutralização de inimigo”, a ALERJ não combate o crime, mas assina uma carteira de trabalho para o extermínio.

Maurício Moura

A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) aprovou, em 23 de setembro de 2025, a emenda que reinstitui a polêmica “Gratificação Faroeste”. Com 47 votos a favor e 15 contra, os deputados autorizaram o pagamento de um bônus mensal a policiais civis que “neutralizarem inimigos” em confronto 1. A retórica oficial a vende como um estímulo à coragem e uma resposta à guerra urbana. Na prática, porém, a medida é a mais explícita e chocante legalização de práticas de esquadrão da morte já vista no Brasil. Ela transforma o Estado em patrocinador do extermínio, incentiva a execução sumária e explora de maneira perversa a vulnerabilidade financeira dos agentes de segurança, criando um incentivo econômico irrecusável para que se mate em vez de se prender.

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Pelo fim da escala 6 x 1

O direito ao descanso como marco civilizatório

Maurício Moura

Em 1880, Paul Lafargue publicava O Direito à Preguiça, denunciando a obsessão das sociedades capitalistas pelo trabalho como uma loucura civilizatória1. Quase século e meio depois, o Brasil continua preso a esta mentalidade.

O atual debate sobre a escala 6×1 — seis dias de trabalho por um de descanso — demonstra a urgência da questão. Nesse sentido, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 8/25, protocolada em fevereiro de 2025, propõe redução da jornada para 36 horas semanais em quatro dias2 e abre espaço para repensarmos a importância do ócio como direito básico — e não como preguiça a ser evitada.

Este artigo examina como a lógica que vê o descanso como inimigo da produtividade está profundamente enraizada na nossa cultura e propõe desafiá-la.

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Governos atacam a educação. Livros queimados. Capitalismo de vigilância

Educação sob ataque sistemático

Maurício Moura

Os crescentes casos de perseguição a docentes em todo o território nacional revelam padrões preocupantes de censura pedagógica que demandam análise urgente1. Este fenômeno transcende episódios isolados, configurando um projeto articulado de cerceamento ao direito constitucional da liberdade de cátedra, com graves implicações para o futuro da educação pública.

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A fome como resultado do Capitalismo

A fome como projeto estrutural do capital

Maurício Moura

A relação entre desnutrição e subdesenvolvimento infantil demonstrada no estudo de Bangladesh (Nature, 2017)1 não representa mero acidente sistêmico, mas manifesta um mecanismo intencional de controle de classe. Em 2024, a insegurança alimentar aguda atingiu 295 milhões de pessoas em 53 países, marcando o sexto ano consecutivo de aumento2. Esta escalada reflete a funcionalidade da miséria para a acumulação capitalista, gerando exército industrial de reserva, desorganizando a resistência coletiva e maximizando a extração de mais-valia. Conflitos e choques climáticos, frequentemente apresentados como causas externas, são mediações da crise estrutural do capitalismo em sua fase imperialista3.

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Pinkwashing Israel. Tarcísio de Freitas, Ricardo Nunes e evangélicos apoiam genocídio

Não há orgulho sob genocídio

A Parada do Orgulho de Tel Aviv é celebrada internacionalmente como um dos maiores eventos LGBTQIA+ do mundo. Mas por trás das luzes coloridas e dos trios elétricos, há uma estratégia de imagem – o chamado pinkwashing – que busca projetar uma face “progressista” de Israel enquanto as mulheres e crianças palestinas nos territórios ocupados são assassinadas às dezenas todos os dias pelo exército israelense.

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Inconcebível: deputado bolsonarista propõe o fim de Universidade Pública

As bancadas bolsonaristas, já famosas pela sua insanidade e por suas crenças em teorias imbecis, também sabe demonstrar que sua sanha por destruir a ciência e a liberdade de pensamento no Brasil e o patrimônio de seu povo também não conhece limites.

O deputado bolsonarista Anderson Moraes (PSL) apresentou na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) um projeto de lei que extingue a Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Sim, caro leitor, você leu corretamente. O “nobre” deputado quer dar fim a um importante centro de pesquisa brasileiro e colocar os alunos dessa Universidade pra darem dinheiro às megacorporações da educação privada.

Esse mesmo Anderson Moraes invadiu o campus da Uerj no Maracanã no início do mês e gravou um vídeo onde destrói com violência uma faixa crítica ao governo federal e onde agride e ofende funcionários e a própria instituição, que classifica como “local de balbúrdia e de vagabundos”.

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Queremos aulas: em defesa do direito ao ensino público e presencial com segurança!

Dani Braz – Diretora de Assistência Estudantil da UNE

Após um ano da implementação do ensino a distância enfiado goela abaixo dos estudantes por todos os governos, sobretudo, por Bolsonaro, a situação é grave. De um lado, empurram o ensino remoto sem nenhum tipo de estrutura, e de outro, abrem e fecham escolas promovendo o caos. No vai e vêm dos governos, os estudantes continuam pagando a conta! Foi o que vimos no ENEM, onde 55% não fizeram a prova presencial. Sem a educação presencial, a maioria não conseguiu se preparar. Outros foram barrados porque o governo não organizou o distanciamento social necessário.

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Para dar dinheiro para empresários, governo ataca a Ciência e a Saúde Pública

Em 2006 a Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde brasileiro se juntou ao Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo e à Organização Pan-Americana da Saúde para elaborar um guia para ajudar a população brasileira a comer melhor, dado o fato de que grande parte da população tinha deficiências nutritivas e doenças crônicas advindas de deficiências alimentares.

Nasceu assim o Guia Alimentar para a População Brasileira, que se tornou rapidamente uma referência mundial no que tange às políticas públicas para a Saúde baseada em evidências, ou seja, baseada no conhecimento científico.

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