Mural 'O Homem na Encruzilhada' de Diego Rivera mostrando um homem central entre visões contrastantes de capitalismo e comunismo, com máquinas, trabalhadores e símbolos científicos ao redor.

O que realmente é esquerda e direita na política?

Maurício Moura

Enquanto think tanks neoliberais declaram obsoletas as categorias de esquerda e direita, a burguesia segue utilizando-as com precisão cirúrgica para dividir e conquistar. Esta não é uma discussão acadêmica, mas uma questão de autodefesa política da classe trabalhadora. Este artigo não busca reforçar rótulos, mas desvendar a anatomia de um conceito que, mesmo sob constante erosão, ancora-se em uma divisão material fundamental: a disputa pela organização da riqueza e do poder social.

A “faísca” que acende esta análise é uma contradição pungente: em um mundo à beira do colapso ecológico e da barbárie social, a discussão política é sequestrada por uma guerra cultural esvaziada, enquanto o eixo econômico que define a vida material da maioria é ofuscado. Desmontar essa armadilha exige entender de onde vieram, o que significam e como são instrumentalizados esses termos.

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Pós-Modernismo e fascismo: anatomia de uma síntese reacionária

Maurício Moura

O ressurgimento global de movimentos autoritários no século XXI, paralelamente à crise dos paradigmas racionais, demanda análise das relações entre pós-modernismo e o que Umberto Eco denominou “fascismo eterno” 1. Este artigo examina como elementos do fascismo histórico ressurgem em discursos que instrumentalizam críticas pós-modernas à razão e à verdade objetiva. Partindo da premissa de Jameson 2 sobre a crise estrutural do capitalismo em sua etapa imperialista, argumenta-se que ambas as formas de consciência social emergem como respostas mediadas por esta crise sistêmica. A tese central sustenta que o esvaziamento das críticas pós-modernas de seu potencial emancipatório permite sua cooptação por projetos autoritários, criando sínteses perigosas no campo discursivo contemporâneo.

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Retórica identitária lutas sociais identitarismo

Retórica identitária e enfraquecimento das lutas sociais

Maurício Moura

A ascensão de políticas identitárias nas últimas décadas tem reconfigurado radicalmente o cenário das lutas sociais. Enquanto movimentos históricos por direitos trabalhistas, reforma agrária ou igualdade racial concentravam-se em transformações materiais, uma nova ênfase em identidades subjetivas (quem eu acho que é igual a mim) fragmenta e despolitiza as reivindicações do povo. Essa mudança não é acidental: coincide com a reestruturação capitalista global dos anos 1980, que promoveu o recuo do Estado social e a financeirização da economia. O resultado é a substituição de projetos coletivos de emancipação por microdisputas simbólicas, muitas vezes cooptadas por corporações e governos para camuflar a manutenção de privilégios econômicos.

Nesse contexto, é urgente distinguir entre a pauta democrática, que visa conquistar as reivindicações objetivas dos trabalhadores, e políticas identitárias que, mesmo quando bem-intencionadas, reduzem conflitos sociais a questões de autorreconhecimento ou representação simbólica. Tendências do feminismo liberal, por exemplo, celebram CEO mulheres enquanto ignoram trabalhadoras sem creche. ONGs antirracistas aceitam doações de bancos que financiam prisões em massa de negros. Essa confusão entre identidade e interesse material não apenas enfraquece a resistência popular, mas também alimenta a extrema-direita, que manipula narrativas identitárias (nacionalismo, fundamentalismo religioso) para consolidar projetos autoritários.

Este texto propõe analisar essa dinâmica a partir de quatro eixos: a natureza social das identidades e sua instrumentalização política, a apropriação das causas identitárias pela extrema-direita, a cooptação mercantil das lutas por reconhecimento e propostas para reconstruir a unidade das lutas populares a partir de necessidades materiais.

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Pinkwashing Israel. Tarcísio de Freitas, Ricardo Nunes e evangélicos apoiam genocídio

Não há orgulho sob genocídio

A Parada do Orgulho de Tel Aviv é celebrada internacionalmente como um dos maiores eventos LGBTQIA+ do mundo. Mas por trás das luzes coloridas e dos trios elétricos, há uma estratégia de imagem – o chamado pinkwashing – que busca projetar uma face “progressista” de Israel enquanto as mulheres e crianças palestinas nos territórios ocupados são assassinadas às dezenas todos os dias pelo exército israelense.

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