Close-up realista de uma prensa hidráulica com um cifrão dourado esmagando uma cabeça humana. Da mente pressionada, extrai-se um fio neuronal dourado que é transformado pela própria máquina em um cristal bruto. Metáfora visual crítica sobre como o capitalismo neoliberal pressiona a saúde mental e depois mercantiliza o sofrimento através de pseudociências.

Ansiedade pós-pandemia e o negócio da pseudociência

Maurício Moura

A pandemia de COVID-19 expôs, de forma brutal, a fragilidade das estruturas sociais e a vulnerabilidade da mente humana diante da incerteza radical. O isolamento, o luto, o medo da doença e a instabilidade econômica global geraram um aumento alarmante nos casos de ansiedade e depressão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25% apenas no primeiro ano da crise sanitária 1.

Em um cenário onde a saúde mental se tornou uma crise de grandes proporções, e onde os sistemas públicos de saúde frequentemente falham em oferecer atendimento adequado e acessível, surge um vácuo. E é nesse vácuo que floresce um mercado lucrativo de pseudociências, pronto para explorar a dor e a busca desesperada por soluções rápidas e milagrosas. O sofrimento psíquico, antes uma questão de saúde pública, é rapidamente transformado em mercadoria.

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A extrema-direita e a mentira como estratégia política

Maurício Moura

A desinformação tem sido frequentemente tratada como um subproduto inevitável das redes sociais: um vírus digital que infecta ecossistemas midiáticos e corrói a confiança nas instituições. No entanto, um estudo pioneiro publicado no International Journal of Press/Politics, analisando 32 milhões de tweets de parlamentares em 26 países entre 2017 e 2022, demonstra que a desinformação não é um fenômeno generalizado: é, sobretudo, uma estratégia política articulada por partidos populistas de extrema-direita 1 2.

A pesquisa, conduzida por Petter Törnberg (Universidade de Amsterdã) e Juliana Chueri (Universidade Livre de Amsterdã), revela que a propagação de informações falsas está intrinsecamente ligada a um projeto político específico: aquele que combina populismo, ultradireitismo e hostilidade às instituições democráticas 1 3.

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Protocolo super bebê. Risco para a mãe e risco para o bebê

Protocolo Super Bebê: o que é, riscos e embasamento científico

Maurício Moura

Em meio a vídeos virais sedutores e promessas milagrosas, o chamado “Protocolo Super Bebê” emergiu nas redes sociais como uma tendência perigosa para gestantes. A prática, que promete elevar o QI e fortalecer o sistema imunológico do bebê por meio de megadoses de vitaminas injetáveis, foi amplamente divulgada por influencers e até mesmo alguns profissionais da saúde, gerando fascínio e preocupação. No entanto, por trás da aura de inovação e biohacking, esconde-se uma realidade alarmante: a completa ausência de comprovação científica e riscos graves à saúde materna e fetal. Entidades médicas de peso, como a Federação Brasileira das Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), emitiram alertas formais contra o protocolo super bebê, classificando-o como uma prática pseudocientífica que viola os princípios da ética médica e coloca vidas em perigo. Este artigo examina criticamente essa moda perigosa, detalha seus riscos reais e reforça a importância fundamental de um pré-natal baseado em evidências como único caminho seguro para uma gestação saudável.

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Demarcação científica: a ilusão da neutralidade

Demarcação científica: a ilusão da neutralidade

Maurício Moura

Neste quarto e último capítulo da nossa série sobre demarcação científica, enfrentamos a pergunta crucial: será possível encontrar critérios universais para distinguir ciência de pseudociência?

Ao compararmos a eficácia dos modelos clássicos e contemporâneos nas diferentes áreas do conhecimento, que padrões emergirão? A falseabilidade popperiana, tão eficaz na física, mostrar-se-á igualmente válida na antropologia? Os paradigmas de Kuhn e o modelo sistêmico de Bunge conseguirão superar as limitações dos critérios tradicionais?

Mais importante: que custos políticos e epistemológicos carregam as tentativas de estabelecer demarcações rígidas? E que tipo de ciência queremos construir – uma que hierarquiza saberes ou uma que celebra a diversidade cognitiva?

A jornada que concluiremos aqui questionará não apenas como definimos ciência, mas para quem e para que fins o fazemos.

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A questão da demarcação e os vários saberes

Demarcação científica: modelos sistêmicos e justiça cognitiva

Maurício Moura

Se as abordagens histórico-sociais revelaram a natureza política da ciência, os critérios contemporâneos buscam operacionalizar essa complexidade sem abandonar o rigor metodológico. Este capítulo examina três eixos fundamentais: o modelo sistêmico de Mario Bunge, que propõe dez dimensões interligadas de cientificidade; a abordagem híbrida de Carvalho, que articula critérios epistemológicos e políticos; e a análise dos fatores sociorraciais que desvelam como hierarquias étnicas estruturam a produção do conhecimento.

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O caleidoscópio da demarcação cientifica

Demarcação científica: a politização do conhecimento

Maurício Moura

Se os critérios clássicos de demarcação falharam em estabelecer padrões universais, as abordagens histórico-sociais emergem precisamente para reconhecer que a validação científica nunca ocorre no vácuo. Continuando nossa série sobre a demarcação científica, este capítulo examina como Thomas Kuhn, Imre Lakatos e pensadores sociais deslocaram o debate da lógica formal para as dinâmicas concretas de produção do conhecimento, um movimento radical que revela a ciência como prática humana, intrinsecamente ligada a contextos históricos e relações de poder.

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Critérios de demarcação científica. O que é e o que não é ciência

Demarcação científica: a ilusão da certeza no verificacionismo e na falseabilidade

Maurício Moura

O problema da demarcação científica, esse espinho cravado na carne da epistemologia desde os gregos, permanece tão atual quanto urgente. Em tempos de negacionismo climático, terraplanismo ressuscitado e medicalização seletiva, a pergunta “o que é ciência?” transformou-se de exercício acadêmico em arma de guerra cultural. O Círculo de Viena e Karl Popper ofereceram as respostas mais influentes do século XX, armados com a convicção de que a lógica e a empiria bastariam para traçar uma linha nítida entre conhecimento válido e superstição. Sete décadas depois, suas soluções mostram-se não apenas incompletas, mas perigosamente enganosas quando aplicadas como critérios universais.

Este artigo desmonta os alicerces desses modelos clássicos, demonstrando por que verificacionismo e falseabilidade falham redondamente como critérios absolutos de demarcação. Suas limitações não são meras curiosidades filosóficas: são falhas estruturais que perpetuam hierarquias epistêmicas, excluem saberes legítimos e instrumentalizam a ciência para projetos de poder. Nas trincheiras do debate público, onde se decide desde políticas de vacinação até currículos educacionais, entender essas limitações é questão de sobrevivência cognitiva.

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Pseudociência institucionalizada: denúncia da Constelação Familiar no Brasil - família manipulada como marionetes, recursos do SUS desperdiçados em rituais, símbolos do ocultismo nazista, tribunal tem decisões baseadas em misticismo

Constelação Familiar: pseudociência, nazismo e dinheiro público

Maurício Moura

A Constelação Familiar (CF), terapia criada pelo alemão Bert Hellinger, virou moda no Brasil, mas esconde uma realidade perigosa. Prometendo resolver conflitos familiares, ela na verdade reforça desigualdades, prejudica vítimas e até influencia decisões judiciais com base em misticismo. Vamos desvendar por que essa prática é uma ameaça real.

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Ontopsicologia, Campo Semântico, Monitor de Deflexão, Em Si Ôntico: Pseudociência

Anti-intelectualismo: a farsa científica da ontopsicologia

Maurício Moura

A ontopsicologia, fundada pelo italiano Antonio Meneghetti na década de 1970, apresenta-se como “ciência da subjetividade humana” através de três pilares teóricos: In-Sé ôntico (núcleo psíquico “puro”), Monitor de Deflexão (mecanismo de desvio existencial) e Campo Semântico (comunicação telepática). Sua classificação como pseudociência é consensual entre as entidades profissionais de psicólogos, como o Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRP-RS), que rejeitam sua base empírica e metodológica (OLIVEIRA, 2016; JORNAL NACIONAL, 2002). Este artigo analisa criticamente como essa corrente sintetiza tendências anti-intelectuais contemporâneas, apropria-se seletivamente de narrativas pós-modernas e replica estruturas autoritárias, configurando risco à integridade epistemológica e à democracia. A relevância social do tema radica na expansão global de movimentos pseudocientíficos que minam instituições democráticas e exploram vulnerabilidades socioeconômicas.

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Coach vende neurobobagens educacionais

Neurobobagens: 10 mentiras “científicas” vendidas pelos coaches

Como o mercado da autoajuda pedagógica distorce neurociência e física para vender soluções mágicas na educação

Maurício Moura

Nossa educação está doente. Investimento ruim, desvalorização dos professores, plataformização e testes padronizados são fruto de uma política perniciosa de desmonte da educação pública. São emblemáticos os casos de São Paulo e Paraná, que estabeleceram uma política de censura e perseguição a professores que “insistem” em dar aula1. Esse contexto é ágar sangue2 para a proliferação de um exército de coaches autoproclamados “especialistas em aprendizagem acelerada”: oportunistas que transformam o caos institucional em mercado fértil para soluções mágicas e charlatanismo. Tais agentes operam como parasitas do sistema educacional, oferecendo curas milagrosas revestidas de jargões científicos que não compreendem. Seu modus operandi é simples: convertem conceitos como neuroplasticidade, física quântica e mindset em mercadorias de um bazar pseudocientífico, prometendo atalhos cognitivos inexistentes para problemas reais que eles mesmos ajudam a perpetuar.

A sedução desses discursos reside na apropriação perversa da linguagem científica: usam a aura da ciência para vender anticiência, explorando a vulnerabilidade de estudantes, pais e educadores em um sistema deliberadamente desassistido.

Este artigo expõe dez dessas alegações pseudocientíficas recorrentes, demonstrando como se alimentam das vulnerabilidades de estudantes, pais e educadores. Ao desmontar essas “neurobobagens”, revelamos não apenas sua inconsistência científica, mas também seu duplo dano: além de fraudar expectativas, desviam energia e recursos de soluções educacionais genuinamente baseadas em evidências.

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