Miguel Nicolelis, neurocientista de expressão crítica, aponta para uma interface semitransparente do ChatGPT enquanto um cérebro humano orgânico contrasta com circuitos digitais que se desintegram ao fundo. Ilustração em estilo editorial que representa o debate entre inteligência biológica e artificial, com livros de neurociência em primeiro plano e elementos de dados se dissipando no ar.

O espelho vazio: a ilusão por trás da “inteligência” artificial

Maurício Moura

A recente euforia em torno dos sistemas de inteligência artificial reacendeu um debate fundamental: estamos diante de uma nova forma de consciência ou de espelhos vazios que apenas refletem nossos próprios dados? O neurocientista Miguel Nicolelis emerge com uma crítica devastadora: a IA não é inteligente nem artificial. Esta afirmação, longe de ser um mero jogo de palavras, representa um divisor de águas na compreensão do que realmente são essas tecnologias e dos riscos que representam para a cognição humana.

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Empreendedorismo é totalitarismo

Empreendedorismo: a nova face do totalitarismo

Maurício Moura

Imagine acordar e, antes mesmo de escovar os dentes, checar suas métricas: horas de sono, tempo no celular, lista de tarefas. Você não está mais vivendo, está gerenciando um negócio. Esta não é uma distopia futurista, mas o presente vendido como ‘o único caminho’.

Um mantra que se repete em todos os cantos: “seja empreendedor”. Esta palavra mágica aparece como solução para o desemprego, para crises econômicas e até como caminho para encontrar propósito na vida. Mas o que parece um conselho inofensivo esconde uma das operações ideológicas mais poderosas de nosso tempo. A filósofa Marilena Chauí nos ajuda a enxergar o que está por trás desse discurso: o empreendedorismo é a expressão mais pura do que ela chama de totalitarismo neoliberal1.

Diferente dos velhos totalitarismos que usavam a força bruta, este novo tipo age de maneira sorrateira. Ele não impõe pela violência, mas pela sedução. Vai transformando tudo em negócio, da educação aos relacionamentos, da cultura aos nossos sonhos mais íntimos. Aos poucos, todas as esferas da vida vão sendo dominadas pela lógica do mercado, onde só valem as regras da eficiência, produtividade e competitividade.

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Audiência Pública em defesa da História - ANPUH-SP

Corte de 35% nas aulas de História em SP ameaça democracia, alerta presidente da ANPUH-SP

Em meio a cortes históricos nas disciplinas de humanidades e à escalada de políticas que ameaçam a autonomia docente, a Associação Nacional de História – Seção São Paulo (ANPUH-SP) convoca a sociedade para uma resistência urgente. Nesta entrevista exclusiva, o professor Everaldo Andrade, do Departamento de História da Universidade de São Paulo e presidente da entidade, detalha como o governo Tarcísio de Freitas promoveu, em cinco anos, uma redução de 35,1% na carga horária de História e Geografia no ensino médio estadual, um retrocesso que inviabiliza a formação crítica de jovens e silencia as raízes das lutas democráticas.

Com a plataformização do ensino via “Escola Total”, a perseguição a profissionais da área e o avanço de grupos negacionistas, Andrade alerta: “O ataque à História é um projeto autoritário”. Na véspera da audiência pública na Assembleia Legislativa (20/08, 14h30), ele explica por que a campanha #MaisHistória é um grito pela democracia, e como a mobilização social pode barrar a erosão do conhecimento. Leia a seguir a análise contundente de quem defende, nas trincheiras educacionais, a memória viva do Brasil.

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A inevitabilidade do viés no algoritmo: como Big Techs lucram com discriminação digital

Maurício Moura

Vivemos imersos em algoritmos. Das redes sociais aos sistemas de saúde, essas fórmulas matemáticas moldam nossa realidade digital. Mas há um segredo sujo: algoritmos não são neutros. Eles refletem preconceitos humanos e interesses corporativos, transformando discriminação em negócio. Neste artigo, revelamos como o viés algorítmico se tornou um produto rentável para Big Techs e o que podemos fazer para frear essa máquina de desigualdade 1.

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Ontopsicologia, Campo Semântico, Monitor de Deflexão, Em Si Ôntico: Pseudociência

Anti-intelectualismo: a farsa científica da ontopsicologia

Maurício Moura

A ontopsicologia, fundada pelo italiano Antonio Meneghetti na década de 1970, apresenta-se como “ciência da subjetividade humana” através de três pilares teóricos: In-Sé ôntico (núcleo psíquico “puro”), Monitor de Deflexão (mecanismo de desvio existencial) e Campo Semântico (comunicação telepática). Sua classificação como pseudociência é consensual entre as entidades profissionais de psicólogos, como o Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRP-RS), que rejeitam sua base empírica e metodológica (OLIVEIRA, 2016; JORNAL NACIONAL, 2002). Este artigo analisa criticamente como essa corrente sintetiza tendências anti-intelectuais contemporâneas, apropria-se seletivamente de narrativas pós-modernas e replica estruturas autoritárias, configurando risco à integridade epistemológica e à democracia. A relevância social do tema radica na expansão global de movimentos pseudocientíficos que minam instituições democráticas e exploram vulnerabilidades socioeconômicas.

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Pós-Modernismo e fascismo: anatomia de uma síntese reacionária

Maurício Moura

O ressurgimento global de movimentos autoritários no século XXI, paralelamente à crise dos paradigmas racionais, demanda análise das relações entre pós-modernismo e o que Umberto Eco denominou “fascismo eterno” 1. Este artigo examina como elementos do fascismo histórico ressurgem em discursos que instrumentalizam críticas pós-modernas à razão e à verdade objetiva. Partindo da premissa de Jameson 2 sobre a crise estrutural do capitalismo em sua etapa imperialista, argumenta-se que ambas as formas de consciência social emergem como respostas mediadas por esta crise sistêmica. A tese central sustenta que o esvaziamento das críticas pós-modernas de seu potencial emancipatório permite sua cooptação por projetos autoritários, criando sínteses perigosas no campo discursivo contemporâneo.

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Limites da Ciência epistemologia fronteira do conhecimento

Limites do método científico: o que a ciência não estuda (nem quer)

Entenda as barreiras epistemológicas e técnicas da investigação científica

Maurício Moura

O método científico moldou nossa compreensão do universo desde a Revolução Científica, oferecendo um antídoto contra dogmas e superstições. Sua aplicação rigorosa permitiu desde a cura de doenças até a exploração espacial, consolidando-se como pilar do pensamento racional. Contudo, sua eficácia não equivale à infalibilidade.

Este artigo sustenta que o método científico é ferramenta indispensável porém delimitada, operando dentro de fronteiras que definem tanto seu poder quanto suas restrições.

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Coach vende neurobobagens educacionais

Neurobobagens: 10 mentiras “científicas” vendidas pelos coaches

Como o mercado da autoajuda pedagógica distorce neurociência e física para vender soluções mágicas na educação

Maurício Moura

Nossa educação está doente. Investimento ruim, desvalorização dos professores, plataformização e testes padronizados são fruto de uma política perniciosa de desmonte da educação pública. São emblemáticos os casos de São Paulo e Paraná, que estabeleceram uma política de censura e perseguição a professores que “insistem” em dar aula1. Esse contexto é ágar sangue2 para a proliferação de um exército de coaches autoproclamados “especialistas em aprendizagem acelerada”: oportunistas que transformam o caos institucional em mercado fértil para soluções mágicas e charlatanismo. Tais agentes operam como parasitas do sistema educacional, oferecendo curas milagrosas revestidas de jargões científicos que não compreendem. Seu modus operandi é simples: convertem conceitos como neuroplasticidade, física quântica e mindset em mercadorias de um bazar pseudocientífico, prometendo atalhos cognitivos inexistentes para problemas reais que eles mesmos ajudam a perpetuar.

A sedução desses discursos reside na apropriação perversa da linguagem científica: usam a aura da ciência para vender anticiência, explorando a vulnerabilidade de estudantes, pais e educadores em um sistema deliberadamente desassistido.

Este artigo expõe dez dessas alegações pseudocientíficas recorrentes, demonstrando como se alimentam das vulnerabilidades de estudantes, pais e educadores. Ao desmontar essas “neurobobagens”, revelamos não apenas sua inconsistência científica, mas também seu duplo dano: além de fraudar expectativas, desviam energia e recursos de soluções educacionais genuinamente baseadas em evidências.

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Plataformização da educação e robotização do estudante EdTech

A precarização do saber e o ensino como commodity

Maurício Moura

O ano de 2025 aprofunda uma crise silenciosa: a conversão da educação em mercadoria digital. Trata-se de uma transformação estrutural que substitui o projeto pedagógico pelo algoritmo, a formação crítica por pacotes de habilidades e o espaço público de aprendizagem por plataformas controladas por conglomerados internacionais.

Este artigo busca analisar essa relação e propor soluções para a qualidade da educação no Brasil.

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Cérebro aprendendo a pensar

Métodos lógicos: um guia para pensar melhor

Como identificar, aplicar (e questionar) as ferramentas que usamos para decifrar a realidade.

Maurício Moura

A forma como interpretamos a realidade nunca é neutra. Nossos julgamentos são constantemente filtrados por métodos de raciocínio que, muitas vezes, operam de forma invisível1. Este artigo busca mapear essas ferramentas intelectuais – da dedução clássica à abdução criativa – oferecendo um roteiro para seu uso consciente. Nosso objetivo? Demonstrar que dominar esses métodos não limita o pensamento, mas amplia nossa capacidade de navegar em meio à complexidade do mundo contemporâneo2.

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