Ilustração em estilo anatômico de uma cabeça humana em perfil, revelando camadas internas com diagramas, padrões culturais e estruturas sociais, representando a religião como construção humana complexa.

A religião além da fé: uma visão científica

Maurício Moura

A religião é uma das forças mais antigas e duradouras da experiência humana. Ela constrói impérios e os derruba, inspira a mais profunda compaixão e justifica a mais brutal violência. Mas, para além da crença ou da descrença individual, o que é a religião, realmente? A resposta oficial, aquela que encontramos na superfície, é uma questão de fé e revelação divina. No entanto, quando aplicamos as lentes da sociologia, da antropologia, da história e da psicologia, uma narrativa muito mais complexa e fascinante emerge: uma narrativa sobre poder, coesão social, medo existencial e a luta pela ordem em um mundo caótico.

Este artigo não busca provar ou refutar a existência do divino. Esse é um terreno metafísico onde a ciência não pode e não deve pisar. Nosso objetivo é mais profundo: desnaturalizar a religião, tratando-a não como um dado sobrenatural, mas como um fenômeno humano, social e histórico, passível de investigação crítica. Quais funções ela desempenha? A quem serve? Como ela se molda e é moldada pelas estruturas de poder? Ao desvendar esses mecanismos, armamos o cidadão com as ferramentas para entender uma das instituições mais influentes de sua vida, seja ele um devoto fervoroso ou um cético declarado.

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Pelo fim da escala 6 x 1

O direito ao descanso como marco civilizatório

Maurício Moura

Em 1880, Paul Lafargue publicava O Direito à Preguiça, denunciando a obsessão das sociedades capitalistas pelo trabalho como uma loucura civilizatória1. Quase século e meio depois, o Brasil continua preso a esta mentalidade.

O atual debate sobre a escala 6×1 — seis dias de trabalho por um de descanso — demonstra a urgência da questão. Nesse sentido, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 8/25, protocolada em fevereiro de 2025, propõe redução da jornada para 36 horas semanais em quatro dias2 e abre espaço para repensarmos a importância do ócio como direito básico — e não como preguiça a ser evitada.

Este artigo examina como a lógica que vê o descanso como inimigo da produtividade está profundamente enraizada na nossa cultura e propõe desafiá-la.

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Pinkwashing Israel. Tarcísio de Freitas, Ricardo Nunes e evangélicos apoiam genocídio

Não há orgulho sob genocídio

A Parada do Orgulho de Tel Aviv é celebrada internacionalmente como um dos maiores eventos LGBTQIA+ do mundo. Mas por trás das luzes coloridas e dos trios elétricos, há uma estratégia de imagem – o chamado pinkwashing – que busca projetar uma face “progressista” de Israel enquanto as mulheres e crianças palestinas nos territórios ocupados são assassinadas às dezenas todos os dias pelo exército israelense.

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Sionismo significa a destruição física do povo palestino

Uma análise dialética dos argumentos do sionismo

A discussão sobre o sionismo e a fundação do Estado de Israel costuma ser marcada por forte polarização, entre acusações de antissemitismo e denúncias de colonialismo. Esse quadro dificulta abordagens críticas e emancipatórias que considerem tanto a realidade histórica do antissemitismo quanto os impactos concretos da criação do Estado israelense sobre a população palestina.

Neste artigo, propomos uma leitura baseada no materialismo e na dialética, que parta do princípio de que as ideias, valores e instituições são produtos das condições materiais concretas da vida social, e não expressões imutáveis de identidades ou crenças1. Entender a sociedade é como desmontar um relógio para ver como as engrenagens (condições materiais) se movem e se transformam, e não apenas olhar para as horas (ideias).

Nosso objetivo é analisar os principais argumentos do sionismo — não apenas em seu conteúdo formal, mas nas relações de poder, interesses materiais e contradições que os sustentam.

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O que é dialética: dos gregos à atualidade

O que é dialética

Maurício Moura

A dialética não é apenas um conceito filosófico entre outros, é uma forma viva de pensar que acompanha a humanidade há mais de dois milênios, transformando-se ao longo do tempo sem perder seu núcleo essencial: a compreensão da realidade como um processo marcado por contradições e mudanças. Seu surgimento na Grécia Antiga não foi acidental; emergiu justamente quando os primeiros filósofos começaram a questionar se a verdade poderia ser alcançada apenas pela contemplação estática ou se exigia o confronto ativo de ideias.

Este artigo é minha humilde contribuição para clarificar um pouco a compreensão desta técnica de investigação das coisas do mundo.

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Novo rabino-chefe do exército israelense diz que soldados podem estuprar mulheres árabes para elevar a moral

“A decisão do Coronel Karim de permitir estuprar mulheres não judias é similar à fatwa1 de uma organização assassina não tão longe das fronteiras de Israel”

Por 

Rabino chefe das Forças de Defesa de Israel, General de Brigada Rafi Peretz, que está deixando o cargo depois de seis anos na posição, está sendo substituído e a nomeação do seu sucessor, Rabino Coronel Eyal Karim, já traz repercussão — afinal ele fala sem rodeios que permite que soldados estuprem mulheres durante tempos de guerra.

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Longe de mim ter preconceito, mas…

Vereador evangélico defende campo de concentração para homossexuais

O vereador pastor Sérgio Nogueira (PSB), defendeu a ideia de confinar os homossexuais em uma ilha por 50 anos. Depois de 50 anos, segundo suas palavras “não vai ter mais ninguém”.

A defesa de tal barbaridade foi feita durante um discurso em 15 de setembro último na Câmara Municipal de Dourados, no Mato Grosso do Sul, em resposta a um convite feito a ele para assistir uma série de palestras contra a homofobia organizadas pela Secretaria Municipal de Assistência Social do município.

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Latuff e o Estado laico do Senhor Jesus

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Ilustração: Carlos Latuff

Você conhece Deus?

Das dez maiores religiões do mundo, quatro acreditam no mesmo deus, o deus abraãmico. São bilhões de pessoas reunidas em dezenas de igrejas que afirmam conhecer profundamente esse deus. Várias delas afirmando que sua relação com ele é pessoal, ou seja, esse deus conhece o indivíduo assim como o indivíduo o conhece profundamente.

Quando várias pessoas conhecem alguém, é natural que elas façam descrições desse alguém de formas ligeiramente diferentes. Mas quando essas várias descrições são contraditórias e incompatíveis, ou a pessoa não conhece de fato de quem ela está falando, ou o descrito mente.

O vídeo a seguir discute exatamente essa questão. Se tantas pessoas conhecem tão profundamente a Deus, por qual motivo cada um dá uma descrição diferente e contraditória sobre sua personalidade, forma, desejos, intenções e a tudo o que se refere a ele? E sobre todas as outras milhares de religiões que também acreditam em deuses?

Mais ainda: em que ponto deixamos de ser humanos e preferimos a divisão e a guerra?

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