Ilustração em estilo anatômico de uma cabeça humana em perfil, revelando camadas internas com diagramas, padrões culturais e estruturas sociais, representando a religião como construção humana complexa.

A religião além da fé: uma visão científica

Maurício Moura

A religião é uma das forças mais antigas e duradouras da experiência humana. Ela constrói impérios e os derruba, inspira a mais profunda compaixão e justifica a mais brutal violência. Mas, para além da crença ou da descrença individual, o que é a religião, realmente? A resposta oficial, aquela que encontramos na superfície, é uma questão de fé e revelação divina. No entanto, quando aplicamos as lentes da sociologia, da antropologia, da história e da psicologia, uma narrativa muito mais complexa e fascinante emerge: uma narrativa sobre poder, coesão social, medo existencial e a luta pela ordem em um mundo caótico.

Este artigo não busca provar ou refutar a existência do divino. Esse é um terreno metafísico onde a ciência não pode e não deve pisar. Nosso objetivo é mais profundo: desnaturalizar a religião, tratando-a não como um dado sobrenatural, mas como um fenômeno humano, social e histórico, passível de investigação crítica. Quais funções ela desempenha? A quem serve? Como ela se molda e é moldada pelas estruturas de poder? Ao desvendar esses mecanismos, armamos o cidadão com as ferramentas para entender uma das instituições mais influentes de sua vida, seja ele um devoto fervoroso ou um cético declarado.

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Imagem que funde a paisagem urbana de Gaza com uma favela do Rio de Janeiro, mostrando soldados não identificados mas heavily armed em posição de vigilância, representando a militarização como política de controle territorial.

A farsa da pacificação: o que une Gaza ao Rio de Janeiro

Maurício Moura

A retórica da “pacificação” tem sido um instrumento recorrente para legitimar intervenções estatais em territórios considerados problemáticos, seja no contexto internacional ou nas periferias urbanas. Este artigo analisa criticamente o Acordo de Cessar-Fogo em Gaza, assinado pelo presidente Donald Trump em outubro de 2025, e o contrasta com a histórica política de “pacificação” de favelas no Rio de Janeiro, demonstrando os paralelos em suas lógicas de dominação, controle territorial e a farsa discursiva que os sustenta.

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Multidão de trabalhadores israelenses e palestinos unidos em protesto durante greve geral em Tel Aviv, com megafone caído sobre paralelepípedos e pichação 'Greve Geral 17/8' em vermelho, bandeiras de Israel e Palestina ao fundo e fumaça na skyline urbana.

Greve geral em Israel: o povo exige o fim da guerra

Em um movimento de desafio aberto ao governo neofascista de Netanyahu, famílias de reféns israelenses mantidos em Gaza convocaram uma greve geral para o próximo domingo (17 de agosto) 1 2. A paralisação, apoiada por partidos da oposição e pelo Conselho 7 de Outubro (que representa parentes de vítimas do ataque de 2023), surge como resposta à decisão do Gabinete de Segurança de Israel de expandir a ofensiva militar para ocupar a Cidade de Gaza 3 4. Organizadores alertam que a operação representa risco mortal para reféns ainda sob custódia do Hamas 5.

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Roger Waters - In The Flesh - The Wall

Roger Waters hoje: como ‘In The Flesh?’ antecipa os novos autoritarismos

Maurício Moura

Lançado em 1979 como parte do álbum conceitual The Wall, a canção “In The Flesh?” surge num contexto histórico marcado pela crise do Estado de Bem-Estar Social, ascensão de governos conservadores (Reagan, Thatcher) e ressurgimento de movimentos neofascistas na Europa. A obra de Roger Waters com o Pink Floyd reflete uma crítica multifacetada aos mecanismos autoritários, analisando tanto estruturas político-sociais quanto processos psicológicos de alienação. Este artigo propõe que a canção constitui uma radiografia dos dispositivos de controle ideológico cuja atualidade manifesta-se nos novos autoritarismos do século XXI, incluindo práticas sionistas contemporâneas. Através de metodologia integrada que conjuga análise musical com teoria política, demonstraremos como a obra antecipou dinâmicas de manipulação coletiva que hoje se reconfiguram. O objetivo é a construção de pontes para superar os desafios atuais da resistência democrática.

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Pós-Modernismo e fascismo: anatomia de uma síntese reacionária

Maurício Moura

O ressurgimento global de movimentos autoritários no século XXI, paralelamente à crise dos paradigmas racionais, demanda análise das relações entre pós-modernismo e o que Umberto Eco denominou “fascismo eterno” 1. Este artigo examina como elementos do fascismo histórico ressurgem em discursos que instrumentalizam críticas pós-modernas à razão e à verdade objetiva. Partindo da premissa de Jameson 2 sobre a crise estrutural do capitalismo em sua etapa imperialista, argumenta-se que ambas as formas de consciência social emergem como respostas mediadas por esta crise sistêmica. A tese central sustenta que o esvaziamento das críticas pós-modernas de seu potencial emancipatório permite sua cooptação por projetos autoritários, criando sínteses perigosas no campo discursivo contemporâneo.

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Ur-Fascismo: a vigilância perpétua de Umberto Eco contra o autoritarismo

Maurício Moura

Umberto Eco, semiólogo e romancista italiano, deixou um legado intelectual que transcende as fronteiras da academia. Seu ensaio “Ur-Fascismo” (1995), escrito para o 50º aniversário da libertação da Europa, permanece uma ferramenta crucial para decifrar os autoritarismos do século XXI. Este artigo explora como as 14 características do “fascismo eterno” identificadas por Eco iluminam fenômenos contemporâneos como o trumpismo, o bolsonarismo e certas correntes do sionismo, revelando padrões inquietantes que desafiam as democracias modernas 1.

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Campo de concentração de Israel em Rafah

Israel anuncia criação de campo de concentração em Rafah

Em 7 de julho de 2025, o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, anunciou a criação de um campo de confinamento em massa nas ruínas de Rafah, no sul da Faixa de Gaza 1. Oficialmente designado como “cidade humanitária”, o projeto visa concentrar inicialmente 600 mil palestinos, mas com potencial expansão para milhões, em uma área cercada por barreiras militares e com restrição de movimentos 2. O anúncio ocorre após a destruição de 75% das estruturas civis em Rafah por ofensivas israelenses, segundo dados da ONU 3. Este artigo examina como a iniciativa combina argumentos de segurança com controle populacional, violando princípios basilares do Direito Internacional Humanitário (DIH) e ocorrendo sob investigação do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) por genocídio 4.

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Pinkwashing Israel. Tarcísio de Freitas, Ricardo Nunes e evangélicos apoiam genocídio

Não há orgulho sob genocídio

A Parada do Orgulho de Tel Aviv é celebrada internacionalmente como um dos maiores eventos LGBTQIA+ do mundo. Mas por trás das luzes coloridas e dos trios elétricos, há uma estratégia de imagem – o chamado pinkwashing – que busca projetar uma face “progressista” de Israel enquanto as mulheres e crianças palestinas nos territórios ocupados são assassinadas às dezenas todos os dias pelo exército israelense.

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Sionismo significa a destruição física do povo palestino

Uma análise dialética dos argumentos do sionismo

A discussão sobre o sionismo e a fundação do Estado de Israel costuma ser marcada por forte polarização, entre acusações de antissemitismo e denúncias de colonialismo. Esse quadro dificulta abordagens críticas e emancipatórias que considerem tanto a realidade histórica do antissemitismo quanto os impactos concretos da criação do Estado israelense sobre a população palestina.

Neste artigo, propomos uma leitura baseada no materialismo e na dialética, que parta do princípio de que as ideias, valores e instituições são produtos das condições materiais concretas da vida social, e não expressões imutáveis de identidades ou crenças1. Entender a sociedade é como desmontar um relógio para ver como as engrenagens (condições materiais) se movem e se transformam, e não apenas olhar para as horas (ideias).

Nosso objetivo é analisar os principais argumentos do sionismo — não apenas em seu conteúdo formal, mas nas relações de poder, interesses materiais e contradições que os sustentam.

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Cartaz no muro da vergonha por uma terra de todos os povos: pelo direito ao retorno

Palestina além do Estado: resistência e alternativas

Este artigo explora a luta palestina para além da narrativa tradicional de um Estado nacional, analisando o conflito sob uma perspectiva anticolonial e materialista. Demonstramos como o imperialismo moldou a ocupação israelense por meio de um projeto colonial de assentamento e examinamos alternativas para a autodeterminação dos vários povos da Palestina. Argumentamos que a solução de dois Estados é estruturalmente inviável devido à expansão contínua dos assentamentos e à lógica do capitalismo racial israelense. Defendemos um modelo de Estado único democrático e laico em toda a Palestina histórica, fundamentado no direito de retorno e na justiça social.

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