Neste vídeo para o TED, o filósofo Dan Dennet analisa alguns aspectos da evolução das espécies e como o senso comum entende esses aspectos de forma errada.
Essa análise se baseia no sistema de recompensas do cérebro e no motivo pelo qual “achamos” que o mel (ou um bolo de chocolate) é doce, uma garota é sensual ou um bebê é “fofo”.
Por fim, discorre sobre uma teoria de Matthew Hurley sobre o motivo de acharmos graça (ou não) nas coisas.
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Eu viajo ao redor do mundo dando palestras sobre Darwin, e geralmente eu falo sobre a estranha inversão de raciocínio de Darwin. Este título, esta frase, vem de um crítico, um crítico pioneiro, e este é um trecho que eu adoro, e gostaria de ler para vocês.
“Na teoria com a qual temos que lidar, Ignorância Absoluta é a artífice; de modo que podemos enunciar como o princípio fundamental de todo o sistema, que, a fim de fazer uma máquina perfeita e bela, não é requisito saber como fazê-la. Esta proposição será encontrada em um exame cuidadoso, para expressar, em uma forma condensada, o propósito essencial da Teoria, e para expressar em poucas palavras todo o significado do Sr. Darwin; quem, por uma estranha inversão de raciocínio, parece pensar que a Ignorância Absoluta é totalmente qualificada para tomar o lugar da Sabedoria Absoluta nas realizações da habilidade criativa.” – Robert Beverley MacKenzie, 1868
Exatamente. Exatamente. E é uma estranha inversão.
Um panfleto criacionista tem uma formidável página: “Teste Dois: Você conhece alguma construção que não tinha um construtor? Sim/Não. Você conhece alguma pintura que não tinha um pintor? Sim/Não. Você conhece algum carro que não tinha um fabricante? Sim/Não. Se você respondeu “SIM” para alguma das acima, especifique”.
A-há! Quero dizer, é realmente uma estranha inversão de raciocínio. Você teria pensado que parece lógico que design requer um designer inteligente. Mas Darwin mostra que isso é simplesmente falso.
Hoje, porém, eu vou falar sobre outra inversão de raciocínio de Darwin, a qual é igualmente intrigante de início, mas de certa forma tão importante quanto. Parece lógico que adoramos bolo de chocolate porque ele é doce. Rapazes tentam conseguir garotas como estas porque elas são sexy. Adoramos bebês porque eles são tão fofos. E, naturalmente, nos divertimos com piadas porque elas são engraçadas.
Isto está invertido. Está sim. E Darwin nos mostra o porquê. Vamos começar com doce. Nosso apetite por doce é basicamente um detector de açúcar evoluído, porque açúcar é energético, e isso foi apenas conectado à preferência, para colocar de forma grosseira, e é por isso que gostamos de açúcar. Mel é doce porque gostamos dele, não “nós gostamos dele porque mel é doce”. Não há nada de intrinsecamente doce sobre o mel. Se você olhasse para moléculas de glicose até cansar, você não veria porque elas são doces. Você deve olhar dentro do cérebro para entender porque elas são doces. Então se você acha que primeiro existia a doçura e depois nós evoluímos para gostar de doçura, você entendeu invertido; isso é simplesmente errado. É o contrário. Doçura nasceu com a fiação que evoluiu.
E não existe nada intrinsecamente sensual sobre estas jovens. E é bom que não exista, porque se existisse, então a Mãe Natureza teria um problema: como conseguir fazer chimpanzés acasalarem? Agora você talvez pense, ah, existe uma solução: alucinações. Isso seria uma maneira de fazer, mas há uma maneira mais rápida. Apenas faça com que os chimpanzés gostem daquele aspecto (e aparentemente eles gostam). Isso é tudo. Ao longo de seis milhões de anos, nós e os chimpanzés evoluímos por caminhos diferentes. Nós ficamos sem pelos, curiosamente. Por uma ou outra razão, eles não ficaram. Se nós não tivéssemos ficado sem pelos, então provavelmente esse seria o auge do sexy.
Nosso apetite por doce é uma evoluída e instintiva preferência por alimentos energéticos. Ele não foi programado para bolo de chocolate. Bolo de chocolate é um estímulo supranormal. O termo pertence a Niko Tinbergen, que fez seus famosos experimentos com gaivotas, onde ele verificou que aquela mancha laranja no bico da gaivota – se ele fizesse um ponto maior e laranja, os filhotes de gaivota bicariam nele ainda mais forte. Isso foi um hiper estímulo para eles e eles adoraram. O que nós vemos com, digamos, bolo de chocolate é um estímulo supranormal para ajustar nosso projeto elétrico. E existem muitos estímulos supranormais: bolo de chocolate é um. Existem muitos estímulos supranormais para a sensualidade.
E existem até estímulo supranormal para fofura. Aqui está um bom exemplo. É importante que adoremos bebês, e que não seja adiado por, digamos, fraudas sujas. Então bebês tem que atrair nosso afeto e nossa proteção, e eles atraem. E, por sinal, um estudo recente mostra que mães preferem o cheiro das fraudas sujas do seu próprio bebê. Então a natureza trabalha em vários níveis aqui. Mas agora, se bebês não parecessem do jeito que são, se bebês parecessem com isto, Isso seria o que nós acharíamos adorável, isso seria o que nós encontraríamos — nós pensaríamos, nossa, eu jamais iria querer abraçar aquilo. Isto é a estranha inversão.
Bem agora, finalmente o que dizer sobre graça. Minha resposta é, é a mesma história, a mesma história. Esta é a mais difícil, a que não é óbvia. Por isso eu deixei para o final. E eu não vou ser capaz de falar muito sobre ela. Mas você deve pensar evolutivamente, você deve pensar, que trabalho duro tem que ser feito – é um trabalho sujo, alguém tem que fazer – é tão importante nos dar uma recompensa tão poderosa e incorporada nisso quando formos bem sucedidos. Agora, eu acho que nós encontramos a resposta, eu e alguns dos meus colegas. É um sistema neural que é conectado para recompensar o cérebro por fazer um trabalho administrativo sujo. Nossa mensagem para este ponto de vista é que isto é o prazer da depuração. Agora eu não vou ter tempo para esclarecer tudo, mas eu vou apenas dizer que só alguns tipos de depuração recebem recompensa. E o que nós estamos fazendo é usar o humor como um tipo de sonda neurocientífica por ligar e desligar o humor, por classificar uma piada – agora não é engraçado… oh, agora é mais engraçado… agora nós vamos girar o botão um pouco mais… agora não é engraçado – desta forma, poderemos realmente aprender algo sobre a arquitetura do cérebro, a arquitetura funcional do cérebro.
Matthew Hurley é o primeiro autor disto. Nós o chamamos de o Modelo Hurley. Ele é um cientista da computação, Reginald Adams é psicólogo, e lá estou eu, e nós estamos juntando isso em um livro.
Muito obrigado.
Tradução: Luiz Bento
Revisão: Aurelio Tergolina Salton
Revisão da transcrição: Maurício Sauerbronn de Moura