O que acontece quando a educação vira mercadoria

A Anhanguera Educacional tornou-se uma empresa S.A., com ações na bolsa de valores e uma agressiva política de compra de outras instituições. Depois de gastar R$ 800 milhões com a compra de 12 redes de ensino, o grupo tornou-se a maior rede de ensino do país. Só no ABC a Anhanguera já adquiriu a Faenac, em São Caetano, a Anchieta e a Uniban, em São Bernardo, a UniA e a UniABC, em Santo André.

Com a aquisição de tantas faculdades, era de se esperar que houvesse mudanças no quadro de professores, promovendo assim um alinhamento com as diretrizes do grupo. No entanto, o que acabou acontecendo foi muito mais que isso.

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Aborto: lei só é eficaz para matar mulheres

O aborto é a terceira causa de morte de mulheres durante a gravidez no Brasil. Dos quase 1 milhão de abortos realizados no Brasil por ano, cerca de 40% são inseguros. No mundo uma mulher morre a cada três minutos em decorrência de problemas relacionados ao aborto.

O ginecologista Jefferson Drezett é um dos grandes especialistas brasileiros na violência contra a mulher, incluindo o aborto. Doutor em Ciências da Saúde,  Drezett é Diretor do Núcleo de Violência Sexual e Aborto Legal do Hospital Pérola Byington, Membro na Grupo de Estudos de Aborto (GEA) da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), membro do Consorcio Latinoamericano Contra o Aborto Inseguro (CLACAI), membro do Consorcio Latinoamericano de Anticoncepción de Emergencia (CLAE) e por aí vai…

Na entrevista a seguir, de 2013, Drezett explica porque o aborto é um problema de saúde pública.

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Carl Sagan: crianças já nascem cientistas

Carl Sagan criança

“Toda criança começa
como um cientista nato.

Nós é que tiramos isso delas.

Só umas poucas
passam pelo sistema
com sua admiração
e entusiasmo pela ciência intactos.”

Carl Sagan

Fonte: Entrevista para a revista Psychology Today (1º de janeiro de 1996)
Tradução: Maurício Moura

O florescente mercado das “desordens psicológicas”

Surgido há 50 anos, o uso de antipsicóticos, a despeito de seus pobres resultados, tornou-se maciço na medicina psiquiátrica norte-americana. Na população geral, 1.100 pessoas (850 adultos e 250 crianças) se unem todos os dias à lista dos destinatários da ajuda financeira federal por motivo de problema mental severo

por Olivier Appaix

Criada em 2008, em Denver (Colorado), a empresa de exames médicos de imagem CereScan pretende diagnosticar os problemas mentais por meio de imagens do cérebro. Um documentário exibido no canal Public Broadcasting Service (PBS)1 mostra seu funcionamento. Sentado entre os pais, um menino de 11 anos espera, silencioso, o resultado da IRM2 de seu cérebro. A assistente social pergunta se ele está nervoso. Não, ele responde. Ela mostra então as imagens à família: “Vocês estão vendo? Aqui está vermelho, e aqui, alaranjado. Mas deveria estar verde e azul”. Tal cor sinaliza depressão; outra, os problemas bipolares ou as formas patológicas da angústia.

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A construção do normal, do anormal e considerações sobre aprendizagem

O que é desvio? Por ora, digamos simplesmente que desvio consiste naquelas categorias de condenação e julgamento negativo elaboradas e aplicadas com sucesso por alguns membros da sociedade a outros.
Peter Conrad

Como é possível distinguir o que é normal do que é anormal? Essa pergunta, que parece simples à primeira vista, deve receber muita atenção principalmente quando não nos satisfazemos com a naturalização que sofrem os fenômenos sociais hoje em dia. Mais ainda, quando estamos convencidos de que a normalidade não é um dado da natureza, mas um conceito construído socialmente.

O conceito de normalidade pode versar sobre três aspectos distintos: aquilo que está dentro das regras sociais, aquilo que é estatisticamente corriqueiro e aquilo que designa a distinção saúde/doença. É tranquilo, nos dias de hoje, em muitas camadas da população, pensar as regras sociais como construções históricas e políticas, que ganham sentido no interior de uma cultura. Nesse aspecto, é qualificado como normal tudo aquilo aceito numa dada sociedade, numa determinada época. O mesmo se passa com a normalidade estatística, relacionada à dimensão de um evento, à sua ocorrência maciça. Ela é expressa em números que não carregam valor ou julgamento em si mesmo, cabendo às pessoas que estudam determinado evento julgar correlações possíveis ou classificá-lo em uma escala de normalidade. Sua atribuição de valor, portanto, é uma construção teórica e também histórica.

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Ritalina, a droga legal que ameaça o futuro

É uma situação comum. A criança dá trabalho, questiona muito, viaja nas suas fantasias, se desliga da realidade. Os pais se incomodam e levam ao médico, um psiquiatra talvez.  Ele não hesita: o diagnóstico é déficit de atenção (ou Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH) e indica ritalina para a criança.

O medicamento é uma bomba. Da família das anfetaminas, a ritalina, ou metilfenidato, tem o mesmo mecanismo de qualquer estimulante, inclusive a cocaína, aumentando a concentração de dopamina nas sinapses. A criança “sossega”: pára de viajar, de questionar e tem o comportamento zombie like, como a própria medicina define. Ou seja, vira zumbi — um robozinho sem emoções. É um alívio para os pais, claro, e também para os médicos. Por esse motivo a droga tem sido indicada indiscriminadamente nos consultórios da vida. A ponto de o Brasil ser o segundo país que mais consome ritalina no mundo, só perdendo para os EUA.

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Um diálogo sobre a razão

Em um tempo em que a irracionalidade tomou totalmente conta das redes sociais, da política, da cultura e até, em vário momentos, da medicina e da pesquisa acadêmica, será que o pensamento racional perdeu seu poder?

Em 2012 o TED (Technology, Entertainment and Design) gravou um bate papo entre o linguista Steven Pinker e a filósofa Rebecca Newberger Goldstein em que eles discutem e chegam à conclusão de que é a razão o motor da moralidade.

Steven é linguista e escritor de best-sellers em que questiona a natureza de nossos pensamentos. Através da análise da linguagem, ele busca definir até que ponto as ações humanas são inatas e até que ponto são fruto do ambiente.

Rebecca também é escritora, tanto de ficção quanto de não ficção. É apaixonada pelos diálogos socráticos e defende a importância da filosofia, inclusive em seus livros de ficção.


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Aprender a aprender: um slogan para a ignorância

Dermeval Saviani é um dos maiores teóricos da educação no Brasil. Graduado em Filosofia em 1966, é doutor em filosofia da educação e livre-docente em história da educação. Saviani é autor de 15 livros, entre eles Escola e Democracia, Educação – Do Senso Comum a Consciência Filosófica e A Questão Pedagógica na Formação de Professores. Tem dezenas de participações em livros, prefácios e artigos publicados. Já participou de mais de 80 bancas de mestrado e doutorado, tendo tido dezenas de orientandos.

Saviani propõe o que chama de Pedagogia Histórico-Crítica, uma visão pedagógica que parte da dialética, especialmente do materialismo histórico, com influência da psicologia histórico-cultural de Vigotski. Para ele, o processo pedagógico não está desvinculado da prática social, ao contrário, a prática social é início e fim da prática educativa.

Em 2008 Saviani concedeu uma entrevista para Raquel Varela e Sandra Duarte que foi publicada na revista portuguesa Rubra, número 3. Leia a íntegra:


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Saviani e o papel da escola

saviani“O papel da escola
não é mostrar a face visível da lua,
isto é, reiterar o cotidiano,
mas mostrar a face oculta, ou seja,
revelar os aspectos essenciais
das relações sociais
que se ocultam sob os fenômenos
que se mostram à
nossa percepção imediata.”

Dermeval Saviani

SAVIANI, Dermeval. Origem e desenvolvimento da pedagogia histórico-crítica. 2012. p. 2

Sagan: a ciência e a democracia

“A ciência é muito mais do que um corpo de conhecimento.
É uma forma de pensar.
Isso é central para o seu sucesso.

A ciência nos convida a ficar com os fatos, mesmo quando eles não estão em conformidade com nossos conceitos.

Carl SaganEla nos aconselha a levantar hipóteses alternativas em nossas cabeças e ver qual delas melhor corresponde aos fatos.

Ela nos exorta a um balanço entre uma abertura sem barreias a novas ideias, mesmo heréticas, e a investigação cética mais rigorosa de tudo – novas ideias e sabedoria estabelecida.

Nós precisamos de uma ampla valorização desse tipo de pensamento.
Ele funciona.
É uma ferramenta essencial para a democracia em uma era de mudanças.

Nossa tarefa é não apenas trainar mais cientistas mas também aprofundar uma compreensão pública da ciência.”

Carl Sagan

SAGAN, Carl. Why We Need To Understand Science in The Skeptical Inquirer. Volume 14, 3ª edição (Primavera de 1990).
Tradução: Maurício Moura