Mural 'O Homem na Encruzilhada' de Diego Rivera mostrando um homem central entre visões contrastantes de capitalismo e comunismo, com máquinas, trabalhadores e símbolos científicos ao redor.

O que realmente é esquerda e direita na política?

Maurício Moura

Enquanto think tanks neoliberais declaram obsoletas as categorias de esquerda e direita, a burguesia segue utilizando-as com precisão cirúrgica para dividir e conquistar. Esta não é uma discussão acadêmica, mas uma questão de autodefesa política da classe trabalhadora. Este artigo não busca reforçar rótulos, mas desvendar a anatomia de um conceito que, mesmo sob constante erosão, ancora-se em uma divisão material fundamental: a disputa pela organização da riqueza e do poder social.

A “faísca” que acende esta análise é uma contradição pungente: em um mundo à beira do colapso ecológico e da barbárie social, a discussão política é sequestrada por uma guerra cultural esvaziada, enquanto o eixo econômico que define a vida material da maioria é ofuscado. Desmontar essa armadilha exige entender de onde vieram, o que significam e como são instrumentalizados esses termos.

Continuar lendo
Close-up realista de uma prensa hidráulica com um cifrão dourado esmagando uma cabeça humana. Da mente pressionada, extrai-se um fio neuronal dourado que é transformado pela própria máquina em um cristal bruto. Metáfora visual crítica sobre como o capitalismo neoliberal pressiona a saúde mental e depois mercantiliza o sofrimento através de pseudociências.

Ansiedade pós-pandemia e o negócio da pseudociência

Maurício Moura

A pandemia de COVID-19 expôs, de forma brutal, a fragilidade das estruturas sociais e a vulnerabilidade da mente humana diante da incerteza radical. O isolamento, o luto, o medo da doença e a instabilidade econômica global geraram um aumento alarmante nos casos de ansiedade e depressão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25% apenas no primeiro ano da crise sanitária 1.

Em um cenário onde a saúde mental se tornou uma crise de grandes proporções, e onde os sistemas públicos de saúde frequentemente falham em oferecer atendimento adequado e acessível, surge um vácuo. E é nesse vácuo que floresce um mercado lucrativo de pseudociências, pronto para explorar a dor e a busca desesperada por soluções rápidas e milagrosas. O sofrimento psíquico, antes uma questão de saúde pública, é rapidamente transformado em mercadoria.

Continuar lendo
Empreendedorismo é totalitarismo

Empreendedorismo: a nova face do totalitarismo

Maurício Moura

Imagine acordar e, antes mesmo de escovar os dentes, checar suas métricas: horas de sono, tempo no celular, lista de tarefas. Você não está mais vivendo, está gerenciando um negócio. Esta não é uma distopia futurista, mas o presente vendido como ‘o único caminho’.

Um mantra que se repete em todos os cantos: “seja empreendedor”. Esta palavra mágica aparece como solução para o desemprego, para crises econômicas e até como caminho para encontrar propósito na vida. Mas o que parece um conselho inofensivo esconde uma das operações ideológicas mais poderosas de nosso tempo. A filósofa Marilena Chauí nos ajuda a enxergar o que está por trás desse discurso: o empreendedorismo é a expressão mais pura do que ela chama de totalitarismo neoliberal1.

Diferente dos velhos totalitarismos que usavam a força bruta, este novo tipo age de maneira sorrateira. Ele não impõe pela violência, mas pela sedução. Vai transformando tudo em negócio, da educação aos relacionamentos, da cultura aos nossos sonhos mais íntimos. Aos poucos, todas as esferas da vida vão sendo dominadas pela lógica do mercado, onde só valem as regras da eficiência, produtividade e competitividade.

Continuar lendo

Máfias da soberania: como a extrema direita global opera como crime organizado

Maurício Moura

A ascensão global de movimentos de extrema direita reconfigurou práticas políticas tradicionais, incorporando métodos historicamente associados ao crime organizado. Este fenômeno manifesta-se através de uma hibridização perigosa entre estruturas estatais e mecanismos ilícitos, onde lealdades pessoais suplantam compromissos institucionais (RODRIGUES, 2017). A investigação aqui proposta parte de uma premissa crítica: grupos como a aliança Trump-Bolsonaro operam segundo uma lógica que transcende o autoritarismo convencional, apropriando-se de estratégias típicas de organizações mafiosas, como extorsão sistêmica, evasão financeira transnacional e instrumentalização de crises (G1, 2024; SPITZECK, 2019).

Continuar lendo
Coach vende neurobobagens educacionais

Neurobobagens: 10 mentiras “científicas” vendidas pelos coaches

Como o mercado da autoajuda pedagógica distorce neurociência e física para vender soluções mágicas na educação

Maurício Moura

Nossa educação está doente. Investimento ruim, desvalorização dos professores, plataformização e testes padronizados são fruto de uma política perniciosa de desmonte da educação pública. São emblemáticos os casos de São Paulo e Paraná, que estabeleceram uma política de censura e perseguição a professores que “insistem” em dar aula1. Esse contexto é ágar sangue2 para a proliferação de um exército de coaches autoproclamados “especialistas em aprendizagem acelerada”: oportunistas que transformam o caos institucional em mercado fértil para soluções mágicas e charlatanismo. Tais agentes operam como parasitas do sistema educacional, oferecendo curas milagrosas revestidas de jargões científicos que não compreendem. Seu modus operandi é simples: convertem conceitos como neuroplasticidade, física quântica e mindset em mercadorias de um bazar pseudocientífico, prometendo atalhos cognitivos inexistentes para problemas reais que eles mesmos ajudam a perpetuar.

A sedução desses discursos reside na apropriação perversa da linguagem científica: usam a aura da ciência para vender anticiência, explorando a vulnerabilidade de estudantes, pais e educadores em um sistema deliberadamente desassistido.

Este artigo expõe dez dessas alegações pseudocientíficas recorrentes, demonstrando como se alimentam das vulnerabilidades de estudantes, pais e educadores. Ao desmontar essas “neurobobagens”, revelamos não apenas sua inconsistência científica, mas também seu duplo dano: além de fraudar expectativas, desviam energia e recursos de soluções educacionais genuinamente baseadas em evidências.

Continuar lendo
Pelo fim da escala 6 x 1

O direito ao descanso como marco civilizatório

Maurício Moura

Em 1880, Paul Lafargue publicava O Direito à Preguiça, denunciando a obsessão das sociedades capitalistas pelo trabalho como uma loucura civilizatória1. Quase século e meio depois, o Brasil continua preso a esta mentalidade.

O atual debate sobre a escala 6×1 — seis dias de trabalho por um de descanso — demonstra a urgência da questão. Nesse sentido, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 8/25, protocolada em fevereiro de 2025, propõe redução da jornada para 36 horas semanais em quatro dias2 e abre espaço para repensarmos a importância do ócio como direito básico — e não como preguiça a ser evitada.

Este artigo examina como a lógica que vê o descanso como inimigo da produtividade está profundamente enraizada na nossa cultura e propõe desafiá-la.

Continuar lendo

Não é piada: Instituto Liberal denuncia a Física Quântica como sendo coisa de comunista

O liberalismo brasileiro está tão afundado no conservadorismo mais rancoroso que já está começando a surtar. Em um bastante criativo artigo1 no site do Instituto Liberal, um tal de Lucas de Moura Lima levanta a tese de que, como a Física Quântica é muito complicada, ela, na verdade, é um instrumento marxista para confundir as pessoas e fazê-las acreditar em uma agenda maléfica que levará o mundo ao inferno socialista.

Em um linguajar messiânico e religioso, o tal Lucas, que é administrador de empresas, associa os valores do Capitalismo à Verdade (com letra maiúscula porque só tem uma), à luz, a um tipo de compreensão celestial. Já o marxismo ele vincula à Mentira, ao lado sombrio e aos Lord Sith.

Continuar lendo

Brecht sobre a liberdade

Bertold Brecht“Privatizaram sua vida,
seu trabalho,
sua hora de amar
e seu direito de pensar.
É da empresa privada
o seu passo em frente,
seu pão e seu salário.
E agora não contente
querem privatizar
o conhecimento,
a sabedoria,
o pensamento,
que só à humanidade pertence.”

Bertold Brecht

Do poema “Privatizado”, de Brecht

A Inglaterra de volta à Idade Média

Na Inglaterra, os cortes nos gastos públicos em nome da “austeridade” (para sobrar mais dinheiro para dar pros banqueiros), acabam abrindo caminho para políticas religiosas e segregacionistas da Idade Média.

O Conselho do Condado de Flintshire decidiu que, para utilizar os ônibus escolares, os alunos devem apresentar uma “prova de fé”. A exigência é para estudantes de escolas confessionais, que estarão proibidos de utilizar o transporte escolar público até que apresentem uma carta de um padre, uma certidão de batismo ou alguma declaração oficial de que eles professam uma fé.

Aqui não se trata apenas de um crime contra a laicidade, mas um crime contra a liberdade de consciência, já que obriga crianças a declarar publicamente sua fé e ainda punem aqueles que não a tem.

Continuar lendo