Mural 'O Homem na Encruzilhada' de Diego Rivera mostrando um homem central entre visões contrastantes de capitalismo e comunismo, com máquinas, trabalhadores e símbolos científicos ao redor.

O que realmente é esquerda e direita na política?

Maurício Moura

Enquanto think tanks neoliberais declaram obsoletas as categorias de esquerda e direita, a burguesia segue utilizando-as com precisão cirúrgica para dividir e conquistar. Esta não é uma discussão acadêmica, mas uma questão de autodefesa política da classe trabalhadora. Este artigo não busca reforçar rótulos, mas desvendar a anatomia de um conceito que, mesmo sob constante erosão, ancora-se em uma divisão material fundamental: a disputa pela organização da riqueza e do poder social.

A “faísca” que acende esta análise é uma contradição pungente: em um mundo à beira do colapso ecológico e da barbárie social, a discussão política é sequestrada por uma guerra cultural esvaziada, enquanto o eixo econômico que define a vida material da maioria é ofuscado. Desmontar essa armadilha exige entender de onde vieram, o que significam e como são instrumentalizados esses termos.

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A extrema-direita e a mentira como estratégia política

Maurício Moura

A desinformação tem sido frequentemente tratada como um subproduto inevitável das redes sociais: um vírus digital que infecta ecossistemas midiáticos e corrói a confiança nas instituições. No entanto, um estudo pioneiro publicado no International Journal of Press/Politics, analisando 32 milhões de tweets de parlamentares em 26 países entre 2017 e 2022, demonstra que a desinformação não é um fenômeno generalizado: é, sobretudo, uma estratégia política articulada por partidos populistas de extrema-direita 1 2.

A pesquisa, conduzida por Petter Törnberg (Universidade de Amsterdã) e Juliana Chueri (Universidade Livre de Amsterdã), revela que a propagação de informações falsas está intrinsecamente ligada a um projeto político específico: aquele que combina populismo, ultradireitismo e hostilidade às instituições democráticas 1 3.

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Máfias da soberania: como a extrema direita global opera como crime organizado

Maurício Moura

A ascensão global de movimentos de extrema direita reconfigurou práticas políticas tradicionais, incorporando métodos historicamente associados ao crime organizado. Este fenômeno manifesta-se através de uma hibridização perigosa entre estruturas estatais e mecanismos ilícitos, onde lealdades pessoais suplantam compromissos institucionais (RODRIGUES, 2017). A investigação aqui proposta parte de uma premissa crítica: grupos como a aliança Trump-Bolsonaro operam segundo uma lógica que transcende o autoritarismo convencional, apropriando-se de estratégias típicas de organizações mafiosas, como extorsão sistêmica, evasão financeira transnacional e instrumentalização de crises (G1, 2024; SPITZECK, 2019).

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Ur-Fascismo: a vigilância perpétua de Umberto Eco contra o autoritarismo

Maurício Moura

Umberto Eco, semiólogo e romancista italiano, deixou um legado intelectual que transcende as fronteiras da academia. Seu ensaio “Ur-Fascismo” (1995), escrito para o 50º aniversário da libertação da Europa, permanece uma ferramenta crucial para decifrar os autoritarismos do século XXI. Este artigo explora como as 14 características do “fascismo eterno” identificadas por Eco iluminam fenômenos contemporâneos como o trumpismo, o bolsonarismo e certas correntes do sionismo, revelando padrões inquietantes que desafiam as democracias modernas 1.

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Plataformização da educação e robotização do estudante EdTech

A precarização do saber e o ensino como commodity

Maurício Moura

O ano de 2025 aprofunda uma crise silenciosa: a conversão da educação em mercadoria digital. Trata-se de uma transformação estrutural que substitui o projeto pedagógico pelo algoritmo, a formação crítica por pacotes de habilidades e o espaço público de aprendizagem por plataformas controladas por conglomerados internacionais.

Este artigo busca analisar essa relação e propor soluções para a qualidade da educação no Brasil.

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Candidata a vice-reitora da UFPR defende publicamente a anti-ciência e o charlatanismo

Que os charlatães e pseudocientistas tinham alcançado a Universidade a gente já sabia, mas agora eles querem mandar nela. É o fanatismo religioso colocando em risco a produção de Conhecimento no Brasil.

A candidata a vice-reitora da Universidade Federal do Paraná, Ana Paula Mussi Szabo Cherobim, participou de um debate da sua chapa, a Chapa 1, com estudantes e professores do Departamento de Ciência Biológicas e, ao ser questionada sobre uma postagem nas redes sociais em que atacava abertamente a Ciência, não só manteve sua posição, como “receitou” às pessoas um remédio sem qualquer evidência que o sustente.

Mais: sustenta seus argumentos com teorias de conspiração!

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Nota de apoio à jovem atea humilhada na televisão equatoriana

Uma jovem de 16 anos foi humilhada publicamente em um programa da televisão equatoriana (Ecuador Tiene Talento) por manifestar não crer em deus. Organizações latino-americanas nos mobilizamos em apoio às ações empreendidas pela Associação Ateia Equatoriana e redigimos uma nota que será enviada ao canal Ecuavisa. Necessitamos mais adesões para apresentar amanhã, terça, 29 de setembro.

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Conservadores estão a ponto de legalizar a prostituição infantil no Brasil

A união da Bancada Evangélica e da Bancada da Bala está a ponto de legalizar a prostituição infantil, a pedofilia e a venda de álcool e cigarros para crianças

A comissão especial da Câmara Federal que discute a Maioridade Penal acaba de aprovar o relatório do deputado Laerte Bessa (PR-DF) que reduz a maioridade penal no Brasil (PEC 171/93). Na sanha de aumentar os lucros de seus financiadores, os deputados conservadores do Congresso atropelam qualquer noção de humanidade e querem alterar a Constituição para que menores de idade não tenham mais proteção do Estatuto da Criança e do Adolescente. Na prática, legalizam a prostituição infantil, a pedofilia e a venda de álcool e cigarros para menores de idade.

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Manifesto Contra a redução da maioridade penal

Se prender pessoas resolvesse os problemas da segurança pública seríamos o quarto país mais seguro do mundo. Isso porque temos a quarta maior população carcerária do planeta. De 1990 até hoje o Brasil aumentou em seis vezes o número de pessoas presas e esta realidade, em vez de diminuir a criminalidade, só fez aumentar a violência. Por mais que o fracasso desta medida seja óbvio, vemos agora uma proposta que quer que crianças e adolescentes sejam submetidos ao mesmo erro.

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Sagan: a ciência e a democracia

“A ciência é muito mais do que um corpo de conhecimento.
É uma forma de pensar.
Isso é central para o seu sucesso.

A ciência nos convida a ficar com os fatos, mesmo quando eles não estão em conformidade com nossos conceitos.

Carl SaganEla nos aconselha a levantar hipóteses alternativas em nossas cabeças e ver qual delas melhor corresponde aos fatos.

Ela nos exorta a um balanço entre uma abertura sem barreias a novas ideias, mesmo heréticas, e a investigação cética mais rigorosa de tudo – novas ideias e sabedoria estabelecida.

Nós precisamos de uma ampla valorização desse tipo de pensamento.
Ele funciona.
É uma ferramenta essencial para a democracia em uma era de mudanças.

Nossa tarefa é não apenas trainar mais cientistas mas também aprofundar uma compreensão pública da ciência.”

Carl Sagan

SAGAN, Carl. Why We Need To Understand Science in The Skeptical Inquirer. Volume 14, 3ª edição (Primavera de 1990).
Tradução: Maurício Moura