Miguel Nicolelis, neurocientista de expressão crítica, aponta para uma interface semitransparente do ChatGPT enquanto um cérebro humano orgânico contrasta com circuitos digitais que se desintegram ao fundo. Ilustração em estilo editorial que representa o debate entre inteligência biológica e artificial, com livros de neurociência em primeiro plano e elementos de dados se dissipando no ar.

O espelho vazio: a ilusão por trás da “inteligência” artificial

Maurício Moura

A recente euforia em torno dos sistemas de inteligência artificial reacendeu um debate fundamental: estamos diante de uma nova forma de consciência ou de espelhos vazios que apenas refletem nossos próprios dados? O neurocientista Miguel Nicolelis emerge com uma crítica devastadora: a IA não é inteligente nem artificial. Esta afirmação, longe de ser um mero jogo de palavras, representa um divisor de águas na compreensão do que realmente são essas tecnologias e dos riscos que representam para a cognição humana.

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Plataformização da educação e robotização do estudante EdTech

A precarização do saber e o ensino como commodity

Maurício Moura

O ano de 2025 aprofunda uma crise silenciosa: a conversão da educação em mercadoria digital. Trata-se de uma transformação estrutural que substitui o projeto pedagógico pelo algoritmo, a formação crítica por pacotes de habilidades e o espaço público de aprendizagem por plataformas controladas por conglomerados internacionais.

Este artigo busca analisar essa relação e propor soluções para a qualidade da educação no Brasil.

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Cérebro aprendendo a pensar

Métodos lógicos: um guia para pensar melhor

Como identificar, aplicar (e questionar) as ferramentas que usamos para decifrar a realidade.

Maurício Moura

A forma como interpretamos a realidade nunca é neutra. Nossos julgamentos são constantemente filtrados por métodos de raciocínio que, muitas vezes, operam de forma invisível1. Este artigo busca mapear essas ferramentas intelectuais – da dedução clássica à abdução criativa – oferecendo um roteiro para seu uso consciente. Nosso objetivo? Demonstrar que dominar esses métodos não limita o pensamento, mas amplia nossa capacidade de navegar em meio à complexidade do mundo contemporâneo2.

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O que é dialética: dos gregos à atualidade

O que é dialética

Maurício Moura

A dialética não é apenas um conceito filosófico entre outros, é uma forma viva de pensar que acompanha a humanidade há mais de dois milênios, transformando-se ao longo do tempo sem perder seu núcleo essencial: a compreensão da realidade como um processo marcado por contradições e mudanças. Seu surgimento na Grécia Antiga não foi acidental; emergiu justamente quando os primeiros filósofos começaram a questionar se a verdade poderia ser alcançada apenas pela contemplação estática ou se exigia o confronto ativo de ideias.

Este artigo é minha humilde contribuição para clarificar um pouco a compreensão desta técnica de investigação das coisas do mundo.

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A incerteza na medicina

Harriet Hall*

Uma das razões que me levaram à medicina foi a ideia ingênua de que médicos sempre sabem o que fazem. Eu estava errada. Marya Zilberberg acertou quando disse que “a única certeza sobre a medicina é a incerteza”. Históricos de pacientes são incertos, exames físicos são incertos, testes são incertos, diagnósticos são incertos, tratamentos são incertos, até a anatomia humana é incerta. Médicos não são cientistas, eles são usuários práticos da ciência que aplicam evidências científicas ao cuidado do paciente. Medicina trata de probabilidades e suposições informadas, não certezas. Sintomas podem significar várias coisas. Eles podem ser um sinal de doenças sérias exigindo tratamento, uma doença que ainda não sabemos identificar e tratar, uma condição benigna que se resolverá sem tratamento, uma hipersensibilização de funções corporais normais, depressão, transtorno de somatização, simulação de doença ou um pedido de ajuda.

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Bronowski e o fracasso da magia

Jacob Bronowski

“O homem domina a natureza
não pela força,
mas pela compreensão.

É por isto que a ciência
teve sucesso
onde a magia fracassou:

porque ela não buscou
um encantamento
para lançar sobre a natureza”

Jacob Bronowski

Bronowski, Jacob. In Singh, Simon. Big Bang. Editora Record. Rio de Janeiro/São Paulo. 2006. ISBN: 85-01-07213-3 (pág. 459)

Cosmos: uma nova odisseia no espaço-tempo

CosmosDurante a década de 1980, o astrofísico Carl Sagan revolucionou a divulgação científica com a série de TV Cosmos: uma viagem pessoal. A série foi um divisor de águas para mim e para grande parte da minha geração, despertando uma curiosidade científica que definiu o que sou hoje.

A série original era escrita pelo próprio Sagan, sua esposa Ann Druyan e Steven Soter e foi vista por 750 milhões de pessoas em 175 países. Ganhou três Prémios Emmy e um Peabody.

Quando Sagan morreu, em 1996, Ann procurou criar uma nova série, seguindo o apelo original de conquistar o maior público possível para conhecer a ciência. Para isso, procurou o “mais popular astrofísico do Universo”, Neil Degrasse Tyson.

Depois de mais de uma década tentando obter dinheiro para produzir a série, Ann, Steven e Neil conseguiram convencer o produtor Seth MacFarlane (criador de Family Guy) a abraçar o projeto, mas só em 2011 ele começou a ser produzido de fato.

Assista o primeiro episódio, Standing Up in the Milky Way, que foi ao ar ontem pela FOX dos EUA e pelo National Geographic Channel. Não esqueça de ligar as legendas.

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Tolstói e o Livre Pensamento

“Livres-pensadores são
aqueles que estão dispostos
a usar suas mentes,
sem preconceito e sem medo
de entender as coisas
que se chocam com
seus próprios costumes,
privilégios ou crenças.

Este estado de espírito
não é comum,
mas é essencial
para pensar direito.

Onde está ausente,
a discussão tende a
tornar-se pior do que inútil.”

Leon Tolstói

Fonte: Tolstoi, Leo. On Life and Essays on Religion. London. Oxford University Press, 1934.
Tradução: Maurício Moura
Imagem: Magixl
* Obrigado a Mariane da Mentes Inquietas pela dica

O que é sagrado? O sagrado é imune à crítica?

Tim Minchin é um ator, humorista e músico australiano. Em seus bem humorados shows musicais, Tim aborda constantemente temas como religião, pseudociências e fé. Ateu e cético, ele defende que nossa visão do mundo deva ser baseada na realidade, nos fatos.

Neste texto, parte de um show com a Heritage Orchestra no Royal Albert Hall, em Londres, Tim discorre sobre a compreensão do sagrado. O que faz um livro, um objeto ou um homem ser sagrado? São suas características intrínsecas ou é um conceito atribuído unicamente por um grupo de pessoas?

Qual o limite do respeito que deve ser cobrado sobre o “sagrado”? A Bíblia ou o Alcorão devem ser respeitados? E quanto às vacas, ratos, cobras, aranhas, gatos e outros animais sagrados em outras culturas? Se alguém pode ser morto por desenhar o Maomé, então também pode ser morto por comer carne de vaca?

No fim, Minchin dá um exemplo prático disso. O Papa é sagrado para alguns cristãos (há vários papas de várias igrejas e há igrejas que não acreditam na sacralidade do papa). Quando o Papa faz algo reprovável, temos o direito de criticá-lo? Ou  sua sacralidade o torna imune a críticas?

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Diderot: razão e fé

Diderot

“Se a razão é uma dádiva do céu,
e se o mesmo
se pode dizer quanto à fé,
o céu nos deu dois presentes
incompatíveis e contraditórios.”

Denis Diderot

“Pensées Philosophiques” in: Œuvres de Denis Diderot, Volume 1 – Página 245, item V, Denis Diderot, Jacques André Naigeon – J.L.J. Brière, 1821
Imagem: Magixl