Imagem em estilo apocalíptico mostrando um enorme data center futurista em formato horizontal, drenando os recursos do planeta. Tubos grossos extraem a última água de um rio seco e sugar energia do solo, que fica carbonizado e rachado. Cabos arrancam minerais e raízes da terra, enquanto o data center brilha com luz intensa e emite ondas de calor sob um céu poluído, em uma paisagem desolada de terra arrasada

Por que a Inteligência Artificial é inimiga do clima

Maurício Moura

A mesma tecnologia que promete salvar o planeta consome recursos em escala continental. Enquanto o Brasil consumia 508 TWh (Terawatt-hora) de eletricidade em 2022, os data centers globais demandavam 460 TWh, com projeções de ultrapassar 1.000 TWh em 2026, equivalente ao consumo anual do Japão 1. Esta contradição define nossa era: a Inteligência Artificial (IA) celebrada por seu potencial climático é também fonte de demanda energética explosiva e impactos ambientais ocultos.

O debate entre tecnófilos e tecnófobos é enganoso. A IA não é ferramenta neutra, mas campo de batalha técnico e político 2. Seu impacto final será determinado pelo modelo de sociedade e interesses econômicos que comandarem sua implantação. Enquanto a indústria de Tecnologias da Informação e Comunicação responde por 1,8% a 2,8% das emissões globais 1, a narrativa hegemônica a vende como salvadora verde. A disputa real opõe uma IA para transição ecológica popular e outra para acumulação verde de lucros.

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Demarcação científica: a ilusão da neutralidade

Demarcação científica: a ilusão da neutralidade

Maurício Moura

Neste quarto e último capítulo da nossa série sobre demarcação científica, enfrentamos a pergunta crucial: será possível encontrar critérios universais para distinguir ciência de pseudociência?

Ao compararmos a eficácia dos modelos clássicos e contemporâneos nas diferentes áreas do conhecimento, que padrões emergirão? A falseabilidade popperiana, tão eficaz na física, mostrar-se-á igualmente válida na antropologia? Os paradigmas de Kuhn e o modelo sistêmico de Bunge conseguirão superar as limitações dos critérios tradicionais?

Mais importante: que custos políticos e epistemológicos carregam as tentativas de estabelecer demarcações rígidas? E que tipo de ciência queremos construir – uma que hierarquiza saberes ou uma que celebra a diversidade cognitiva?

A jornada que concluiremos aqui questionará não apenas como definimos ciência, mas para quem e para que fins o fazemos.

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A questão da demarcação e os vários saberes

Demarcação científica: modelos sistêmicos e justiça cognitiva

Maurício Moura

Se as abordagens histórico-sociais revelaram a natureza política da ciência, os critérios contemporâneos buscam operacionalizar essa complexidade sem abandonar o rigor metodológico. Este capítulo examina três eixos fundamentais: o modelo sistêmico de Mario Bunge, que propõe dez dimensões interligadas de cientificidade; a abordagem híbrida de Carvalho, que articula critérios epistemológicos e políticos; e a análise dos fatores sociorraciais que desvelam como hierarquias étnicas estruturam a produção do conhecimento.

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A inevitabilidade do viés no algoritmo: como Big Techs lucram com discriminação digital

Maurício Moura

Vivemos imersos em algoritmos. Das redes sociais aos sistemas de saúde, essas fórmulas matemáticas moldam nossa realidade digital. Mas há um segredo sujo: algoritmos não são neutros. Eles refletem preconceitos humanos e interesses corporativos, transformando discriminação em negócio. Neste artigo, revelamos como o viés algorítmico se tornou um produto rentável para Big Techs e o que podemos fazer para frear essa máquina de desigualdade 1.

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Ur-Fascismo: a vigilância perpétua de Umberto Eco contra o autoritarismo

Maurício Moura

Umberto Eco, semiólogo e romancista italiano, deixou um legado intelectual que transcende as fronteiras da academia. Seu ensaio “Ur-Fascismo” (1995), escrito para o 50º aniversário da libertação da Europa, permanece uma ferramenta crucial para decifrar os autoritarismos do século XXI. Este artigo explora como as 14 características do “fascismo eterno” identificadas por Eco iluminam fenômenos contemporâneos como o trumpismo, o bolsonarismo e certas correntes do sionismo, revelando padrões inquietantes que desafiam as democracias modernas 1.

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Campo de concentração de Israel em Rafah

Israel anuncia criação de campo de concentração em Rafah

Em 7 de julho de 2025, o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, anunciou a criação de um campo de confinamento em massa nas ruínas de Rafah, no sul da Faixa de Gaza 1. Oficialmente designado como “cidade humanitária”, o projeto visa concentrar inicialmente 600 mil palestinos, mas com potencial expansão para milhões, em uma área cercada por barreiras militares e com restrição de movimentos 2. O anúncio ocorre após a destruição de 75% das estruturas civis em Rafah por ofensivas israelenses, segundo dados da ONU 3. Este artigo examina como a iniciativa combina argumentos de segurança com controle populacional, violando princípios basilares do Direito Internacional Humanitário (DIH) e ocorrendo sob investigação do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) por genocídio 4.

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Retórica identitária lutas sociais identitarismo

Retórica identitária e enfraquecimento das lutas sociais

Maurício Moura

A ascensão de políticas identitárias nas últimas décadas tem reconfigurado radicalmente o cenário das lutas sociais. Enquanto movimentos históricos por direitos trabalhistas, reforma agrária ou igualdade racial concentravam-se em transformações materiais, uma nova ênfase em identidades subjetivas (quem eu acho que é igual a mim) fragmenta e despolitiza as reivindicações do povo. Essa mudança não é acidental: coincide com a reestruturação capitalista global dos anos 1980, que promoveu o recuo do Estado social e a financeirização da economia. O resultado é a substituição de projetos coletivos de emancipação por microdisputas simbólicas, muitas vezes cooptadas por corporações e governos para camuflar a manutenção de privilégios econômicos.

Nesse contexto, é urgente distinguir entre a pauta democrática, que visa conquistar as reivindicações objetivas dos trabalhadores, e políticas identitárias que, mesmo quando bem-intencionadas, reduzem conflitos sociais a questões de autorreconhecimento ou representação simbólica. Tendências do feminismo liberal, por exemplo, celebram CEO mulheres enquanto ignoram trabalhadoras sem creche. ONGs antirracistas aceitam doações de bancos que financiam prisões em massa de negros. Essa confusão entre identidade e interesse material não apenas enfraquece a resistência popular, mas também alimenta a extrema-direita, que manipula narrativas identitárias (nacionalismo, fundamentalismo religioso) para consolidar projetos autoritários.

Este texto propõe analisar essa dinâmica a partir de quatro eixos: a natureza social das identidades e sua instrumentalização política, a apropriação das causas identitárias pela extrema-direita, a cooptação mercantil das lutas por reconhecimento e propostas para reconstruir a unidade das lutas populares a partir de necessidades materiais.

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Inconcebível: deputado bolsonarista propõe o fim de Universidade Pública

As bancadas bolsonaristas, já famosas pela sua insanidade e por suas crenças em teorias imbecis, também sabe demonstrar que sua sanha por destruir a ciência e a liberdade de pensamento no Brasil e o patrimônio de seu povo também não conhece limites.

O deputado bolsonarista Anderson Moraes (PSL) apresentou na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) um projeto de lei que extingue a Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Sim, caro leitor, você leu corretamente. O “nobre” deputado quer dar fim a um importante centro de pesquisa brasileiro e colocar os alunos dessa Universidade pra darem dinheiro às megacorporações da educação privada.

Esse mesmo Anderson Moraes invadiu o campus da Uerj no Maracanã no início do mês e gravou um vídeo onde destrói com violência uma faixa crítica ao governo federal e onde agride e ofende funcionários e a própria instituição, que classifica como “local de balbúrdia e de vagabundos”.

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Marielle Franco: executada como “aviso” político. Escolhida por ser mulher, negra e favelada.

* Samara Azevedo

Segundo o Atlas da Violência de 2017, um jovem negro no Brasil tem 2,6 mais chances de ser assassinado que um jovem branco. A cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras.

Marielle era negra e pobre.

4.621 mulheres foram assassinadas no Brasil no ano de 2015. 18 mulheres foram  assassinadas em Portugal de janeiro a novembro de 2017. Em um dia e meio de Brasil, mulheres são mortas na proporção que Portugal mata quase o ano todo.

Marielle era mulher.

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“Limpeza étnica”: o racismo legalizado de Israel

“Precisa de uma empregada? Está cansado de ser multado por contratar imigrantes ilegais? Não quer contratar uma faxineira árabe por questões de segurança? Está cansado de seguir a lei e depois ser processado por empregados temporários?”

Não, esse texto não foi retirado de uma propaganda do Século XIX. Ele é a chamada de um folheto distribuído em pleno 2016 nas ruas de Tel Aviv, em Israel. Ele oferece serviços domésticos com preços que variam segundo a origem étnica do empregado.

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