O Julgamento do Macaco

O professor John Scopes

As tentativas de impor o obscurantismo através da força sempre permeou o poder, em especial quando a distinção entre Estado e Religião não estão claras. O exemplo mais conhecido disso foi a Idade Medieval, quando Igreja e Estado eram umbilicalmente ligados e a Inquisição se encarregava de torturar e assassinar qualquer um que ousasse discordar dos dogmas estabelecidos.

Essa história todo mundo já ouviu falar, mas ela não acabou por aí. Vários países ainda qualificam a discordância religiosa como crime. Grande parte da Europa tem leis contra a blasfêmia, embora a opinião pública da maioria dos países geralmente consiga impedir sua ação.

Recentemente, um funcionário público da Indonésia foi condenado a cumprir 2,5 anos na cadeia por ter escrito a frase “Deus não Existe” no Facebook (embora líderes religiosos defendessem a decapitação). No mesmo país, cinco adolescentes foram presas por dançar. O Instituto Pew Research Center constatou em 2010 que 5,2 bilhões de pessoas (75% da população do mundo) vivem em locais em que há restrições de crença.

No Brasil não é diferente, com professores obrigando alunos a rezarem e os constantes ataques promovidos pela Bancada Evangélica e os conservadores de plantão (como a PEC 99/11, que iguala o status das igrejas grandes a organizações da Sociedade Civil, como sindicatos e partidos).

Mas o que dizer quando a ciência é classificada como crime?

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Vargas Vila: toda fé é uma tirania

“Duvide.
Nenhuma fé até hoje
foi tolerante.
A dúvida é a tolerância.
A fé levantou fogueiras,
a dúvida
não as levantará jamais.
Toda fé é uma tirania
e todo crente
é um escravo.
Não acredite”

Vargas Vila

In: BAZZO, Ezio Flavio. Assim falou Vargas Vila. Brasília, Companhia das Tetas Publicadora, 2005.

Quem dá bola não importa. Quem importa não dá bola.

Dr. Seuss, nascido Theodor Seuss Geisel, foi escritor e cartunista dos EUA. Escreveu dezenas de livros infantis, entre eles, Horton e o Mundo dos Quem! e O Grinch.

A frase a seguir é atribuída a Seuss. Embora não tenha uma fonte segura – o Wikiquote atribui a Bernard Baruch – e esteja deslocada do contexto, a interpretação de Gavin Aung Than, do Zen Pensils, como sempre, ficou muito mais legal e dentro do contexto histórico atual.

Os livres pensadores defendem que a moral imposta e os dogmas devem ser vencidos. Defendem a liberdade de pensamento e de crença e são contra qualquer forma de opressão. Assim, não podem aceitar a imposição de qualquer valor moral a qualquer indivíduo.

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Exorcismo é bobagem!

Exorcismo é a prática de pretensamente expulsar demônios do corpo de pessoas “possuídas” por eles. É uma crença presente em várias religiões, mas especialmente marcante nas denominações cristãs pentecostais e neopentecostais, inclusive a Renovação Carismática, que é ligada à Igreja Católica.

Para quem vive no mundo real, o transtorno de “possessão” é um distúrbio mental ligado a um transtorno dissociativo de personalidade ou a alguns tipos de monomania.

Antes do ser humano começar a conhecer a mente até fazia sentido atribuir as doenças mentais a demônios e djins. Como tudo o mais, o humano atribuía ao desconhecido raízes mágicas e fantásticas. Só que o conhecimento humano sobre a mente já evoluiu bastante e já não faz o mais ínfimo sentido utilizar a fantasia como explicação.

Pior: os rituais de exorcismo são rituais geralmente violentos. Baseiam-se em causar desconforto físico ao “possuído”. São, assim, rituais onde as torturas física e psicológica são constantes e “aceitáveis”.

Sobre esse assunto, Penn & Teller fazem uma pesquisa em seu programa Bullshit! e formulam uma crítica bem humorada sobre a bobagem perigosa e violenta do exorcismo, apresentando dados estarrecedores sobre o tema.

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Darwin era um punk

Greg Graffin é conhecido por ser o vocalista da banda punk Bad Religion. O que poucos sabem é que Greg também é professor universitário na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles).

Proeminente na cena Punk desde os 15 anos, com o Bad Religion, Greg se graduou em Antropologia e Geologia na UCLA, recebeu o título de mestre em Geologia na própria UCLA e concluiu seu doutorado em Zoologia na Universidade Cornell. O título de sua tese de doutorado foi “As visões de mundo monista, ateia e naturalista: perspectivas da biologia evolucionária”. Atualmente leciona Ciências da Vida na UCLA.

Greg também escreveu uma série de livros, sozinho ou em parcerias, sobre temas ligados à evolução e à religião.

Na entrevista a seguir, concedida a David Biello para a Scientific American em 2010, Gregory fala sobre ciência, evolução e a visão completamente equivocada do senso comum sobre essas coisas.

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O que é sagrado? O sagrado é imune à crítica?

Tim Minchin é um ator, humorista e músico australiano. Em seus bem humorados shows musicais, Tim aborda constantemente temas como religião, pseudociências e fé. Ateu e cético, ele defende que nossa visão do mundo deva ser baseada na realidade, nos fatos.

Neste texto, parte de um show com a Heritage Orchestra no Royal Albert Hall, em Londres, Tim discorre sobre a compreensão do sagrado. O que faz um livro, um objeto ou um homem ser sagrado? São suas características intrínsecas ou é um conceito atribuído unicamente por um grupo de pessoas?

Qual o limite do respeito que deve ser cobrado sobre o “sagrado”? A Bíblia ou o Alcorão devem ser respeitados? E quanto às vacas, ratos, cobras, aranhas, gatos e outros animais sagrados em outras culturas? Se alguém pode ser morto por desenhar o Maomé, então também pode ser morto por comer carne de vaca?

No fim, Minchin dá um exemplo prático disso. O Papa é sagrado para alguns cristãos (há vários papas de várias igrejas e há igrejas que não acreditam na sacralidade do papa). Quando o Papa faz algo reprovável, temos o direito de criticá-lo? Ou  sua sacralidade o torna imune a críticas?

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A Marselhesa anticlerical

Ilustração do livro “La Bible amusante”, de Léo Taxil (1882).

Em 1881, o militante anticlerical Leo Taxil escreveu uma música em defesa da laicidade e da democracia na França. A música usava a melodia de A Marselhesa e, por conta disso, ficou conhecida como A Marselhesa Anticlerical.

Seu objetivo central era propagandear a separação entre a Igreja e o Estado, ou seja, a laicidade.

Taxil na verdade era um dos pseudônimos do jornalista francês Marie Joseph Gabriel Antoine Jogand Pagès, que escreveu vários livros em que criticava o clero, principalmente o católico. Por defender que a moral não era uma verdade absoluta e que a Igreja não poderia ter o monopólio dessa verdade, Taxil foi condenado e seu jornal, “La Marotte”, foi proibido.

Taxil ficou conhecido por enganar a Igreja Católica por anos com uma história de uma tal Diana Vaughan que divulgava que a maçonaria era uma seita satanista. Inventou até um ídolo que seria adorado pela maçonaria: Baphomet. Ele sustentou a fraude de 1885 até 1897, convencendo, inclusive, o papa Leão XIII.

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Pressão de religiosos prejudicou a campanha de prevenção a aids, diz especialista

O Brasil precisa adotar uma postura mais incisiva na área da prevenção e da infecção por HIV para recuperar o protagonismo mundial no enfrentamento à doença. A opinião é do médico sanitarista e epidemiologista Pedro Chequer. Considerado um dos principais especialistas no tema no país, ele acredita que o Brasil sofreu um “grande retrocesso” nos últimos anos por, entre outras razões, ceder à pressão de grupos religiosos na condução das ações de resposta à epidemia.

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Benjamin Franklin sobre a fé

“O jeito de ver pela fé
é fechar os olhos da razão.”

Benjamin Franklin

Poor Richard: the almanacks for the years 1733-1758 – página 189, Benjamín Franklin, Editora Newly, 1964, 300 páginas

Imagem: Magixl