Materialismo

Materialismo, idealismo e dialética: chamando as coisas pelos seus nomes

O senso comum faz uma grande confusão entre os termos materialismo e idealismo. Com influência, provavelmente, da moral religiosa, várias pessoas defendem a ideia de que o materialismo é o enaltecimento dos prazeres mundanos em detrimento de ideais mais “elevados”.

Essa ideia não é nova:

 “O filisteu entende por materialismo glutonaria, bebedeira, cobiça, prazer da carne e vida faustosa, cupidez, avareza, rapacidade, caça ao lucro e intrujice de Bolsa, em suma, todos os vícios sujos de que ele próprio em segredo é escravo; e por idealismo, a crença na virtude, na filantropia universal e, em geral, num ‘mundo melhor’, de que faz alarde diante de outros, mas nos quais ele próprio [só] acredita, no máximo, enquanto cuida de atravessar a ressaca ou a bancarrota que necessariamente se seguem aos seus habituais excessos ‘materialistas’ e [enquanto], além disso, canta a sua cantiga predileta: que é o homem? — meio animal, meio anjo.”
(ENGELS, F. Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã. 1886)

Como demonstra o texto a seguir, essa visão não condiz com a realidade. Ele explica o ponto de vista de um dos principais teóricos do materialismo, o alemão Karl Marx. O materialismo (em especial o materialismo histórico e dialético) é uma concepção filosófica, não um preceito moral. O preceito básico seguido pelo materialismo é a observação da matéria, ou seja, do mundo real, sem o uso de hipóteses mágicas ou fantásticas. Ou seja, o materialismo defende que o mundo deve ser explicado a partir de si mesmo, até porque a matéria é a realidade objetiva e existe independente de nossa percepção ou consciência.

Leia também As teses de Marx sobre a filosofia de Feuerbach.

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Ontopsicologia: a pseudociência unindo o charlatanismo ao capitalismo selvagem

Em 2003 foi produzido o livro Método Científico & Fronteiras do Conhecimento, um trabalho conjunto do físico Ronaldo Mota, do geneticista Renato Z. Flores e dos biólogos Lenira Sepel e Élgion Loreto, todos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

O livro é dividido em duas partes. A primeira apresenta uma abordagem histórica do método científico, analisando desde as primeiras contribuições dos gregos, passando pelas bases do método científico no Renascimento, o seu amadurecimento (a partir da obra de Newton) até os filósofos da ciência contemporâneos, como Popper, Kuhn e Feyerabend.

A segunda parte utiliza temas contemporâneos para abordar as fronteiras do conhecimento. Para isso, analisa as pseudociências e apresenta conceitos e descobertas recentes nas áreas da genética, evolução e neourociências.

O texto a seguir é o capítulo 5 do livro, escrito pelo geneticista Renato Zamora Flores e é uma importante fonte de informação no debate sobre a fonteira entre o que é e o que não é ciência.

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Helen Keller: da prisão do silêncio à emancipação proletária

Helen KellerHelen Keller foi uma famosa ativista social dos EUA. Cega e surda por causa de uma doença durante a infância, aos oito anos, foi para o Instituto Perkins para Cegos, onde  aprendeu a se comunicar sentindo, com o tato, a linguagem de sinais feita pelo interlocutor. Foi onde conheceu Anne Sullivan, sua professora, que se tornou sua companhia até sua morte (em 1936). Mais tarde, aprendeu a ler lábios e sentir as vibrações das cordas vocais com o tato, o que a possibilitou aprender a falar.

Keller provou que as limitações sensoriais não são impeditivos para o Livre Pensamento. Graduou-se em filosofia com 24 anos. Durante a faculdade, escreveu sua autobiografia (The Story of My Life), livro que se tornou um dos mais famosos da literatura estadunidense. Era proficiente, além do inglês, em francês, alemão e latim.

Os meios de comunicação tentaram pintá-la apenas como uma defensora dos deficientes físicos, mas Keller foi uma militante das liberdades democráticas, sufragista e pacifista. Membro do SPA (Parido Socialista da América), participou de várias greves operárias e discursou várias vezes para os trabalhadores. Em 1912 se filiou à  Industrial Workers of the World (IWW ou “os Wobblies“) e passou a defender um sindicalismo revolucionário. Internacionalista, visitou 39 países em defesa dos deficientes físicos. Após a Segunda Guerra Mundial, foi ao Japão e a Europa para defender os veteranos feridos.

Neste artigo, Keller responde aos jornais da grande mídia, que por muito tempo a utilizaram para histórias sensacionalistas, mas que não puderam conter seu ódio quando Keller passou a defender as ideias socialistas, o voto para as mulheres e o fim das guerras.

Helen Keller foi uma verdadeira Livre Pensadora. Levantou-se contra as tradições e dogmas, contra a opressão de qualquer tipo, contra as guerras e em defesa do pensamento materialista. Tal como Einstein, identificou suas ideias com as ideias socialistas.

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Contra a PEC 99/11

Contra a PEC 99/11

 

Leia também: Sobre Laicidade, PEC 99/11 e a Democracia Política

A fronteira entre a ciência e a não ciência

Demarcando o que é e o que não é ciência

O seguinte artigo foi publicado pela Revista Filogênese, da Unesp, no volume 3, de 2010. Escrito pelo graduando em Filosofia pela UFOP, Rafael d’Aversa, busca os limites entre a ciência e a pseudociência através da análise de dois filósofos da ciência: Karl PopperRudolf Carnap.

Carnap foi um filósofo alemão. Um dos mais influentes membros do Círculo de Viena e defensor do positivismo lógico (neopositivismo), negava a metafísica (que considerava inútil e sem sentido) e defendia o princípio da verificação.

Popper era um filósofo da ciência nascido na Áustria e naturalizado britânico. Ele contrapõe o critério da verificação (do positivismo lógico) pelo método da falseabilidade. Apesar de sua crítica ao Círculo de Viena, é comummente descrito como um positivista.

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Um diploma em artes obscuras

Obscurantismo com diploma

O objetivo deste site é a propagação do pensamento materialista, ou seja, fazer com que as pessoas passem a usar a realidade como parâmetro para analisar o mundo, ao invés de dogmas e tradições. Nesse sentido, propagandeamos a ciência e o pensamento científico.

Um dos grandes inimigos do pensamento científico são os dogmas e religiões que se travestem de ciência, ou seja, aquelas disciplinas que se afirmam científicas, mas que não se utilizam do método científico, carecem de provas ou plauseabilidade, não se baseiam em estudos ou pesquisas etc.

O artigo a seguir foi apresentado na Primeira Conferência Iberoamericana sobre Pensamento Crítico da revista Pensar, na Argentina, em setembro de 2005. Apesar do tempo, o texto continua extremamente atual.

Professor ParanormalDe lá pra cá a situação piorou bastante, ao ponto de criarem uma faculdade com o único objetivo de dar uma “cara” científica para a pseudociência religiosa da Ontopsicologia (Faculdade Antonio Meneghetti).

As faculdades e universidades particulares se tornaram fábricas de dinheiro e, para alcançar o lucro a qualquer custo, abrem cursos os mais bizarros.

As Faculdades Integradas Espírita, em Curitiba, oferecem um Curso Superior de Formação Específica em Yoga que “visa conceber um profissional que utilize métodos da Filosofia Hindu, privilegiando a difusão de técnicas de prevenção à doença, numa ação mediadora dos estados patológicos para a busca do equilíbrio bio-psico-social e espiritual do indivíduo, seguindo os pressupostos dos textos do Yoga Clássico” e o Curso Superior de Formação Específica em Naturoterapia, contendo em seu currículo: auriculoterapia e massoterapia, acupuntura e fitoterapia, iridologia, florais, hidroterapia, geoterapia, trofoterapia, cromoterapia, Zen Shiatsu, Tui-Ná e Reflexolologia Podal.

O obscurantismo atingiu a Universidade e ganhou seu diploma. Agora, como um vírus, arrasta gerações de jovens de volta à Idade Média.

Leia outros textos sobre pseudociências.

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Carl Sagan: a meritocracia e a imbecilização das crianças

Não me lembro quando o li pela primeira vez, já tinha mais de 30, mas há um livro que provavelmente foi um dos principais responsáveis por despertar em mim a compreensão de que era necessário propagandear o método científico, o materialismo.

Esse livro foi The Demon-Haunted World (O Mundo Assombrado pelos Demônios – A Ciência vista como uma vela no escuro), de Carl Sagan.

Já era fã incondicional de Sagan por conta da série Cosmos, que assistia avidamente e repetidamente (assista todos os episódios aqui), mas esse livro bateu mais fundo.

No livro, Sagan apresenta o método científico de uma forma simples, para fazê-lo ser compreendido por todos. O objetivo é propagandear a ciência, é convencer as pessoas comuns a pensarem de maneira materialista, científica, racional. Quer auxiliar as pessoas a não mais serem enganadas por superstições e pseudociências, pensando criticamente e questionando as novas e as velhas ideias.

É exatamente com o mesmo objetivo que criei este blog: a militância pelo materialismo.

O texto a seguir foi extraído desse livro. Nele, Sagan demonstra como as crianças passam de cientistas natos a adultos autômatos imbecilizados. Entende qual o papel da chamada “meritocracia” nesse processo, como a necessidade de ter seu “mérito” reconhecido faz com que os jovens passem a ter medo, ter pavor de errar. Assim, passam a preferir a certeza da mediocridade à insegurança da descoberta.

Sagan faz também uma crítica velada à política liberal e neoliberal que está destruindo a educação pública, em especial a educação científica, levando os EUA e o mundo de volta à Idade das Trevas.

A ciência é para todos, inclusive para crianças

Beau Lotto é um neurocientista especializado na percepção humana. É fundador do Lotto Lab, uma espécie de mistura entre um laboratório científico e um estúdio artístico que tem como objetivo pesquisar a percepção.

Lotto defende que todas as pessoas, incluindo as crianças, devem participar da ciência e mudar suas percepções a partir de processos de descoberta.

Neste vídeo para o TED, Lotto tem ao seu lado Amy O’Toole,  uma adolescente de 12 anos que, inspirada pela ciência participativa defendida por Lotto, auxiliou uma experiência científica no Reino Unido e, aos 10 anos de idade, se tornou a pessoa mais jovem a publicar um paper científico.

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Reunião em Curitiba em defesa do Estado Laico e contra a PEC 99/11

Está sendo convocada pelas redes sociais uma reunião para discutir como atuar contra a PEC 99/2011. Esta reunião está marcada para o próximo dia 20 de abril, às 10 h da manhã, na sala 404 do edifício D. Pedro II da UFPR (Rua Dr. Faivre, 405). Várias pessoas já se comprometeram em estar presentes. O texto abaixo procura alertar para os riscos da aprovação da PEC 99/2011 e ajudar na motivação pela participação nesta reunião
Porantim

Em defesa da democracia, do Estado laico e da liberdade religiosa.

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Pessoas menos inteligentes tendem a ser mais conservadoras e preconceituosas

Não é nova a idéia de que o conservadorismo e o preconceito estão ligados umbilicalmente. Vários estudos já realizados chegaram a essa conclusão. A novidade é que o posicionamento conservador e o preconceito podem estar ligados à baixa inteligência.

Um estudo feito por pesquisadores de uma universidade de Ontario, no Canadá, chegou a conclusões bastante interessantes: adultos de baixo QI ou com dificuldades cognitivas tendem a ter atitudes conservadoras e preconceituosas (racismo, homofobia, machismo etc).

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